Tudo começou numa certa madrugada: tive uma iluminação, uma coisa meio Chico Xavier musical, e “psicografei” cinco músicas de uma vez só. Elas falavam sobre um amor mal resolvido da minha vida. Eu tinha conhecido um cara dentro do metrô e tinha me apaixonado por ele; só que, depois de me relacionar durante 1 ano e passar por momentos de alegria e de tristeza, decidi que não podia mais continuar aquela relação sem reciprocidade. Então acendeu a luz de que eu deveria fazer um álbum como uma ópera-rock, narrando todas as histórias que vivi ali. E decidi que o disco iria se chamar “Canções para Odiar”. Dei esse nome porque eu queria falar de outra perspectiva do amor. Queria falar da revolta e da raiva que sentimos quando não somos amados e de como isso pode nos impulsionar a sair desse lugar de vítima para o lugar de protagonista da nossa história.
O disco começa com a faixa-título, uma espécie de vinheta para introduzir toda a trama e com uma atmosfera bem teatral, quase como uma abertura da FOX. Em seguida, a música “Naquele Trem” conta exatamente o momento em que a personagem conhece o homem no metrô. A letra fala de como essa mulher, uma extensão de mim mesma, se sentia perdida, pois não sabia andar de metrô; aí, esse homem mostra o caminho “certo” para ela. Pelo prisma da carência e da vontade de achar um amor, ela se agarra a esse homem e sente que ele traz sentido e direção pra vida dela.
“Te Achei Feio” foca no primeiro ” date” dos dois. Ela reencontra o homem e, já sem tanto encantamento, pensa que ele não é tão bonito como no dia em que o conheceu no metrô. Porém, começa a beber, né? Aos poucos, vai gostando de novo, e passa a achá-lo até bonito. A faixa seguinte, “Encaixe”, é sobre a primeira noite de amor, bem sensual e relata como houve uma sensação de encaixe perfeito entre os dois, uma noite de magia e sexo.
Já “Samba” faz uma brincadeira com a própria palavra, pois não se trata do gênero samba e traz uma pegada rock eletrônica e também uma espécie de sarcasmo: essa mulher não gosta muito de samba, mas começa a frequentar muitas rodas na Lapa, por causa desse homem. Nesse momento, aliás, percebe que ele quer muito estar com ela, mas que não quer se envolver. Entende que ele só quer sexo e não quer que ela faça parte da vida dele. Isso abre espaço para a “Pomba Pira”, faixa seguinte que conta do exato momento em que a mulher percebe o sumiço dele e se joga na noite, tentando sair com outros caras para tentar esquecê-lo. Ela se comunica com sua energia sexual por meio da figura da pomba-gira e pira por causa desse homem.
O esvaziamento se dá em “Empty”, canção que descreve o momento em que ela vai ao fundo do poço e percebe que esse vazio que ela sente nunca será preenchido. Por mais que tente suprir suas faltas, nada nunca poderia fazer com que ela se sentisse completa e talvez precise aprender a conviver com essa falta, que gera o desejo capaz de movê-la a continuar realizando seus sonhos.
“Migalha” fecha o disco e é como um grito de alerta: quando a ficha cai e ela percebe que nunca amou aquele homem. Amou uma projeção dele. E por isso, sente ódio por ter se enganado e aceitado tão pouco. Desse ódio, surge a força criativa que vai transformar o luto do amor em “Canções para Odiar”, e uma nova heroína vem para a cena: a Odete Hateman!
Com muito humor, é ela quem conta a trajetória da amiga “tolinha”, a Katia Jorgensen. Odete é forte, bem resolvida, não aceita migalhas. É uma mulher empoderada, que incentiva outras a se amarem mais, a se respeitarem. Quando pensei em construir o show, veio a ideia de criar uma dramaturgia que completasse a história que no disco é contada pelas músicas. Por isso, decidi convidar minha amiga, a atriz Maria Eduarda de Carvalho, que me conhece muito e acompanhou de perto toda a história. Ela soube trazer para o show um viés cênico e dramatúrgico que completa toda a experiência da obra, que será lançada nas plataformas no mesmo dia. Estou feliz com o resultado e acho que todas mulheres vão se identificar com essa personagem, pois, se já não foram uma, um dia, vão virar a mesa e se tornarão todas Odetes Hateman.
Foto: Roberto Cardoso Jr
Katia Jorgensen é cantora, compositora, idealizadora do tributo Viva Gal e professora de interpretação. Ela apresenta o novo show, “Canções para Odiar”, dia 18 de setembro, no Teatro Rival, na mesma data em que lança nas plataformas o álbum de mesmo nome.