Iniciei minha jornada no empreendedorismo há mais de 30 anos, após me formar em Design e Antropologia. Buscando me aprofundar no universo do “branding”, fui aos Estados Unidos fazer meu mestrado em visual communications no Pratt Institutions e fundei minha primeira agência, em Nova York. Os maiores desafios, porém, aconteceram quando decidi voltar ao Brasil.
Retornei ao país em 1993, e me deparei com um cenário completamente diferente — quase que um choque de cultura, mesmo! Cheguei cheia de energia, com dois sócios americanos, enquanto a área de gestão de marcas no Brasil ainda engatinhava. Em Nova York, me acostumei a trabalhar com clientes do mundo inteiro, de forma globalizada; a volta ao mercado brasileiro abriu meus olhos para a necessidade de uma revolução na gestão das marcas do país.
Nosso país também estava um passo atrás na impressão de materiais fundamentais para meus clientes. Eu não me contentava com a qualidade da impressão feita por aqui, à época, e enviava os arquivos para imprimir em gráficas americanas, que devolviam o produto final para o Brasil. Uma viagem impensável nos dias de hoje, não é mesmo?
A experiência nos EUA, claro, mudou minha visão a respeito das dinâmicas de trabalho e comecei a implementar meu conhecimento no mercado brasileiro. Compreendi que consistência e disciplina são fundamentais para o desenvolvimento das empresas, através do alinhamento de marca, negócio e comunicação. O conceito de “branding” era desconhecido aqui, e a gestão caótica da maioria das empresas era um grande empecilho no desenvolvimento das marcas. Pude observar erros básicos pautados por modelos engessados de gestão, e decidi levantar a bandeira do “branding” em terras brasileiras.
O Brasil, evidentemente, sempre teve um potencial gigante quando falamos de marcas e mercado. Nossa brasilidade, desvinculada de razões políticas e ideológicas, é um grande diferencial competitivo. Além de seu apelo estético autêntico, ela engloba uma filosofia que resgata nossas raízes, projeta nosso futuro e celebra nossa cultura. É um movimento inclusivo, que inteligentemente inventa soluções, explorando nossos recursos com sensibilidade emocional, para gerar evolução coletiva. Como sempre digo, o nosso desafio é o desperdício de valor, não a escassez.
Apesar disso, busquei entender o motivo de nenhuma marca brasileira estar entre as 100 maiores do mundo. Concluí que um fator-chave se destaca: o protecionismo da economia minou a competitividade e a inovação das marcas brasileiras durante décadas. Nos EUA, a mentalidade “client first” sempre esteve enraizada na cultura empresarial devido à forte concorrência entre as empresas. Essa mentalidade impulsiona fortemente a inovação, a qualidade dos produtos e a excelência no atendimento.
É muito curioso lembrar como eu era em 1993 e como me sinto hoje. À época, estava desbravando uma área que mal existia no Brasil e assumi o desafio pessoal de impulsionar o valor das pessoas e organizações por meio da visão que viera comigo na bagagem. Nessa trajetória, que, em 2024, completa 31 anos, posso olhar para trás e reconhecer que valeu a pena. Hoje, muito mais tranquila, fico lisonjeada em ser reconhecida como pioneira do “branding” no Brasil, apesar de não concordar 100%. Participei da construção e divulgação dessa disciplina por aqui e ainda batalho para desmistificá-la. Fico feliz por fazer parte dessa importante revolução.
Ana Couto fundou a agência homônima há 30 anos, da qual é CEO. É considerada uma das mais importantes do país e atua alinhando marca, negócio e comunicação para construção de valor de grandes marcas. Desenvolve projetos de “branding”, da estratégia à implementação (publicidade). Está também à frente da plataforma de conteúdo de aprendizagem LAJE. Em três décadas, já atendeu a mais de 400 empresas e conquistou mais de 50 prêmios. Atualmente, a empresa conta com mais de 85 colaboradores em mais de 11 estados brasileiros.