Há várias formas de fome: de ambição, prazer, amor… A fome é sempre associada a ter algo que é fundamental à nossa sobrevivência. Algo que nos permite ter vida. A sensação é de carência, mas é desejo que pode ser doloroso, inesperado, difícil. “Faminta”, o espetáculo da cineasta, atriz e contorcionista Natasha Jascalevic, com direção de Duda Maia, nos apresenta um ambiente em que a plasticidade do cenário, da luz e do figurino serve perfeitamente à esplêndida metáfora sobre a capacidade da mulher de ir além.
A primeira observação que nos invade é o vermelho, vida, sangue e carne no conjunto formado pelo plástico vermelho. O esplêndido trabalho de Duda Maia na direção é capaz de criar cenas que fazem a capacidade de expressão corporal de Nastasha se transformar em uma instalação que se move, interage com a plataforma, com o plástico que toma o palco e que se move como uma massa corporal moldável ao que se deseja.
Ao mesmo tempo, há uma recordação da obra do pintor irlandês Francis Bacon, que conta que, ao deparar com a vitrine de um açougue, refletiu: “[…] enquanto pintor, devemos lembrar que há essa grande beleza na cor da carne. […] Nós, obviamente, somos carne, somos carcaças em potencial. Quando vou a um açougue, sempre penso que é surpreendente que eu não esteja lá no lugar do animal”.
O apelo é mais amplo que uma história de vida e morte. Há poesia no texto de Natasha. Há arte em todas as suas expressões em “Faminta”. Há música na trilha de Azullllllll. Há o encantamento do circo no corpo de contorcionista de Natasha. Há uma mensagem inequívoca da força da mulher. Há talento em todos os momentos, como há puro teatro no tratamento com que Natasha e Duda fazem do palco: uma arena onde a metáfora exerce uma fascinação na plateia ao deparar com o melhor das artes performáticas.
Fotos: Lorena Zschaber
Serviço:
Sesc Copacabana
de 1º a 23 de junho, de quinta a domingo, às 19h