Na Escola de Psicologia Analítica de Carl Jung, a anima e o animus são descritos como parte de sua teoria do inconsciente coletivo. Jung descreveu o animus como o lado masculino inconsciente de uma mulher, e a anima, como o lado feminino inconsciente de um homem, cada um transcendendo a psique pessoal. É dessa premissa — de como as mulheres são capazes de iluminar seu tempo e os posteriores —, que “Ânima” constrói um espetáculo capaz de mostrar a força absoluta da mulher.
A visão de mundo e a ação de mulheres de vários tempos e culturas (Joana d’Arc, Hipátia de Alexandria, Marguerite Porete, Helena Blavatsky, Harriet Tubman e Simone Weil) — foram a escolha da autora Lúcia Helena Galvão, com Beth Zalcman em uma atuação excepcional, como a fiadora que une todas as pontas.
A encenação de Luiz Antônio Rocha é uma sucessão de acertos. A iluminação é um personagem que, durante todo o tempo das diversas personagens, cria mais do que um diálogo – é capaz de ressignificar a corriqueira expressão “dar à luz” para “maternidade” e criar um espaço cênico de rara beleza.
Cumpre destacar: tudo que gira em torno da interpretação de Beth Zalcman, aliás, interpretações, posto que são várias personagens, várias vozes, vários corpos, as transformações, incluindo a tecelã/narradora, fazem com que o solo seja uma multiplicidade de prazeres.
Cada detalhe, cada palavra, cada canção, cada objeto cênico, que são as cordas que sobem, descem, manipuladas, fazem a experiência de assistir à “Anima” ser uma oportunidade de vivenciar o melhor do que chamamos artes dramatúrgicas. É um espetáculo que traduz a mensagem, de forma clara e objetiva, da intenção do autor, ao mesmo tempo em que a beleza dos elementos cênicos faz de “Ânima” uma verdadeira festa, um ritual que mostra a mulher como a força maior (e luz) da Terra.
Serviço:Teatro Fashion Mall (Estrada da Gávea 899, 2 piso, São Conrado)
sexta e sábado, às 20h; domingo, às 19h