Noite de superlotação no Petit Trianon, com a posse de Lilia Schwarcz, escritora com vários prêmios Jabuti, na cadeira nº 9, antes ocupada por Alberto da Costa e Silva, morto em novembro de 2023, a quem ela amava e chama de “segundo pai”, ou seja, a antropóloga e historiadora paulistana já se sentou ali, com proteção metafísica, digamos assim.
A nova imortal deve guardar boas memórias da noite da posse, nessa sexta (14/06). No passo a passo, era como se tudo estivesse generosamente aberto para ela, que retribuiu. Lilia é a 11ª mulher a receber o título de imortal na ABL, hoje, com 35 homens, e a quinta na ativa (além dela, Ana Maria Machado, Fernanda Montenegro, Heloísa Teixeira e Rosiska Darcy de Oliveira, que a apresentou em seu longo discurso).
Enquanto isso, intelectual paulista criticou, à meia-voz, a baixa representação feminina na ABL e ouviu de jornalista: “Compara com o STF que você não vai achar tão ruim assim”. Que tal? A única ministra do Supremo, Cármen Lúcia, estava lá, além de outros membros do atual Governo: o ministro Silvio Almeida, de Direitos Humanos, e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.
A certa altura de seu discurso, Schwarcz, falou das desigualdades de gênero e raça no Brasil, ilustrando com as tentativas frustradas de Lima Barreto, de quem escreveu a biografia “Triste Visionário”, de entrar na ABL: “Lima Barreto tentou três vezes entrar na Academia e desistiu; depois, dois de seus biógrafos, Francisco de Assis Barbosa e eu mesma, aqui estamos. Penso que não será coincidência tampouco sermos brancos.”
Mais adiante, citou ainda Silviano Santiago, autor de “Machado”, ao falar de Machado de Assis, fundador da ABL. Procurado, ali de momento, Silviano disse: “Hoje, aqui, a Lília, ensaísta e amiga, se reafirma como uma das mais sólidas conhecedoras das múltiplas manifestações políticas, sociais e artísticas da resistência dos pretos no Brasil. Não é pouco dado o fato de que o múltiplo objeto de análise, a resistência, demanda uma teoria que se complexifica a cada minuto.”
Ailton Krenak, que mora numa aldeia em Minas, mas mais perto de Vitória do que de Belo Horizonte, quase fica sem fardão: estando fora de casa, há 15 dias, em viagens pelo País, só quando pousou no Rio lembrou-se de que esqueceu seu traje de gala em casa. Falta gravíssima — rs! Sua mulher, Irani, viajou 4 horas de carro, pegou um avião em Vitória e chegou a tempo. O líder índigena, daqui pra frente, guarda lá mesmo seu mais importante figurino. O presidente da ABL, Merval Pereira, acha que muitos podem ficar mais tranquilos assim.
Para o beija-mão, sem fila oficial, Lilia passou para a área externa, em noite quente, mas sem calor angustiante, tendo ao lado o marido, o editor Luiz Schwarcz, o tempo todo. Juntos, o casal fundou a Companhia das Letras.
Dentre os detalhes curiosos, a maciça presença de professores, funcionários de editora e intelectuais, além dos imortais estrelados, como você pode ver nas fotos.
E, por fim, ninguém derramou champagne nos sofás italianos que decoraram a área externa.