Depois da tragédia com o empresário paulistano Henrique da Silva Chagas, de 27 anos, que morreu depois de fazer um peeling de fenol com a esteticista Natalia Becker, o assunto tem despertado muito interesse. Uma das suspeitas da investigação policial é a de que Henrique possa ter tido alguma reação alérgica ao tratamento e morrido por choque anafilático.
O peeling de fenol promete uma transformação radical: pele nova, fina, sem marcas, manchas, rugas ou linhas de expressão, ou seja, praticamente um milagre, como aparece nas redes, em muitas publicações com milhões de visualizações.
O produto, em concentrações padronizadas, é aplicado com anestesia local, podendo durar até quatro horas. O procedimento é feito por áreas, com intervalo de 10 minutos entre cada uma delas, tempo para que o fenol comece a fazer efeito. O aspecto depois da aplicação é o de uma queimadura; posteriormente começar uma descamação que vai durar de duas a três semanas.
A coluna conversou com três dermatologistas sobre o assunto: Doris Hexsel, Gabriella Albuquerque e Victor Bechara.
Gabriella Albuquerque, especialista em rejuvenescimento não cirúrgico: “O fenol é considerado um peeling facial profundo por atingir camadas como derme papilar ou até reticular e possuir como característica a melhora da firmeza da pele e remoção de rugas finas e até mesmo as profundas depois de uma única sessão, sendo, às vezes, considerado mais efetivo que lasers (como CO2 e Erbium). O problema é que, dependendo da quantidade utilizada em pacientes mais sensíveis, pode ter como consequência a arritmia cardíaca, com aumento do intervalo QT (tempo entre dois eventos no eletrocardiograma, do início da onda Q até o final da onda T). O paciente precisa estar monitorado, de preferência em um centro cirúrgico, com anestesista e todo o suporte necessário. Não faço peeling de fenol porque acredito que deixa o rosto muito modificado nos primeiros dias, com crostas. O paciente fica muito nervoso com a aparência, até ela voltar ao normal; por isso, prefiro tecnologias como laser de Erbium, YAG do aparelho, fotona ou laser de CO2″.
Victor Bechara, dedicado principalmente ao rejuvenescimento e beleza natural: “O peeling de fenol é considerado classicamente profundo, com resultados fantásticos quando bem indicado, mas todo o cuidado é pouco para evitar complicações como cicatrizes, manchas e até mesmo riscos de cicatrizes inestéticas. Existem diferentes modalidades de tratamentos atuais e seguras, como alguns tipos de lasers clássicos, como o de CO2, tecnologias avançadas de microagulhamento com radiofrequência (como Secret Duo), que, quando trabalhadas em mais sessões ou de forma combinadas, entregam resultados maravilhosos também. Costumo dizer que não basta o paciente querer fazer um peeling como o de fenol: ele tem que poder e nem todos têm indicação. Pacientes com pele morena ou negra, com histórico de queloides, e com doenças cardiológicas (arritmias) ou renais devem evitar o procedimento. Os pacientes podem ter efeitos colaterais, como manchas escuras ou até claras, cicatrizes e, até mesmo, risco de problemas de arritmias cardíacas, renais e morte pela toxicidade do fenol”.