Na próxima semana, “comemora-se” a Semana do Ambiente (o Dia Mundial do Meio Ambiente é 05 de junho). Não sei bem o quê….
Nas décadas passadas, o que se configurava como uma atividade lúdica — crianças plantando mudas, desenhando sobre a natureza, políticos discursando cheios de pompa e vazios na forma de ações práticas e duradouras —, hoje é tema que preocupa setores econômicos, como as seguradoras, por exemplo, que, em razão do clima e de suas consequências, obrigam esse tipo de atividade a refazer as contas ao ter de pagar centenas de milhões em face dos prejuízos causados pelo mau humor climático.
As coisas mudam: essa é uma regra universal. Tudo se movimenta a todo o momento, dentro e fora de nós; tudo, absolutamente quase tudo, muda a cada segundo.
Para parcela significativa da espécie atualmente dominante em países que vivem mentalmente ainda nos séculos XIX e XX, o que parece não mudar é a “estratégia do avestruz”, em que, por conta de crendices, dogmas, conveniências, interesses e comodidades mentais e materiais, continua-se acelerando fundo no processo natural, induzido pelo homem ou ambos (destaco que, nesta altura do campeonato, não é relevante essa polêmica tão querida por negacionistas), que têm sabotado os mecanismos de homeostase planetários. Simplesmente, liga-se o “fo..-se”, e continuamos na trilha que, para muitos pesquisadores do tema, está nos conduzindo para mudanças climáticas jamais vistas pela civilização dominante no momento.
Algumas verdades convenientes de serem sabidas:
A conta simplesmente não fecha na medida em que tiramos mais do que o Planeta que nos abriga tem capacidade de repor.
Mecanismos de homeostase planetária vêm sendo sabotados sistematicamente. Florestas continuam sendo derrubadas ainda em ritmos alucinantes, somando-se aos níveis de carbono que vão sendo eliminados de seus variados estoques naturais, até então imobilizados. Sua concentração torna-se cada vez mais alta, injetando, no sistema climático, cada vez mais energia e, por sua vez, gerando consequências consideradas “atípicas” até poucos anos atrás.
Chuvas torrenciais (com 100 ou 200 mm) são coisas do passado. Inflacionamos esses números para um novo patamar de “chuvas bíblicas”, em que, em alguns dias, alcançam-se 300, 400, 500, 600 mm ou mais de chuva, volumes esperados para meses, sendo que nem áreas naturalmente “intocadas” suportam tamanho volume de água.
Grande parte das metrópoles brasileiras apresenta uma quantidade de ocupações urbanas em áreas de risco que configuram essas regiões como verdadeiras bombas socioambientais prestes a explodir. Nesse contexto cultural de “porteira arrombada”, em que “prevenção” é palavra considerada uma blasfêmia, punida com processos e até morte, as tragédias se sucedem onde nunca, em tempo algum, há gestores culpados. Dessa forma, chegamos finalmente ao ponto de tornar cidades quase que inteiramente impossíveis de serem reconstruídas em suas áreas originais, geralmente naquelas naturalmente vulneráveis no passado e impossíveis de serem ocupadas no presente.
A classe política, de forma geral, tanto no Brasil como na maioria dos países (democráticos ou não), não está preparada tampouco tem demonstrado o interesse proporcional que o tema ambiental exige. A facilidade com que se queimam centenas de bilhões de dólares em armamentos para guerras espalhadas pelo Planeta ou para eventos megalomaníacos em países que não contam ainda nem como saneamento universalizado, contrasta com a dificuldade de obter verbas proporcionais à demanda ambiental. Simplesmente, a classe política não sente nenhuma sinalização de fato por parte da sociedade que a mobilize para o tema — não gera voto, portanto não há por que se preocupar. Aliás, muito pelo contrário, por força de interesses corporativistas ou defendendo projetos pessoais, há uma mobilização, essa sim, efetiva para a flexibilização de dispositivos legais ambientais — um verdadeiro “ecocídio” movido por interesses econômicos imediatistas e pela passividade da sociedade.
A lista de verdades poderia ser muito maior — envolve decisões puramente individuais, diárias, como a de jogar ou não lixo nos rios, como coletivas. No dia das eleições, insiste-se em eleger muitas das vezes o que até hoje não deu certo; pelo menos, em termos ambientais com raras exceções.
Soluções técnicas existem, dão trabalho; por vezes, são demoradas, mas existem! Posso comprovar factualmente, no meu microcosmo, que essa certeza é a lagoa Rodrigo de Freitas, onde, num ecossistema considerado “IRRECUPERÁVEL” pelos experts e que após três décadas de batalhas permanentes contra variados delinquentes ambientais, configura-se atualmente num importante centro econômico e ecoturístico da cidade do Rio de Janeiro, onde a explosão de biodiversidade sempre nos assombra positivamente.
O grande nó, não só no Brasil como no resto do Planeta, está em nossa forma de pensar e agir individualmente e coletivamente, doutrinada a depositar, na conta de terceiros, as atitudes que deveriam fazer parte de nosso dia a dia ou das “futuras gerações”, como se ainda dispuséssemos de tempo para isso.
Em resumo, para quem ainda utiliza alguns neurônios e não abdicou da estratégia da “prevenção” (outra palavra odiada), sugiro, por um lado, investir tempo em leituras técnicas que abordem o tema ambiental, mas, muito além disso, agir, agir de forma individual ou coletiva, seja da forma que for e no espaço físico disponível. O que não há mais é um produto chamado tempo, esgotado pela nossa procrastinação em sair da nossa zona de conforto e enfrentar o monstro que criamos e continuamos alimentando a cada saco de lixo jogado nos rios e a cada voto equivocado em representantes mais preocupados com seus projetos pessoais de poder.
A decisão é nossa: pode começar hoje, em nossa rua, e nas próximas eleições.
No que você acredita ou deixa de acreditar, para a Natureza, está pouco importando. Fato é que a civilização como a conhecemos é produto da previsibilidade e estabilidade climática. Independentemente do que ainda está por vir, por conta dos extremos climáticos, a vida continuará nesse planeta ainda por muito tempo, o que não se pode dizer em relação à atual civilização globalizada.
Boa sorte para sua decisão!