Isso de ver a exposição em 10 minutos, cumprimentar o artista em mais 2, virar uma tacinha, ficar sem saber o que fazer ou ir embora, não aconteceu na abertura da coletiva “Pinacoteca Botânica”, na Anita Schwartz Galeria, na Gávea, nessa quarta 22/05): todo mundo ficou atento à performance da artista plástica Yolanda Freyre.
Considerada uma das precursoras da performance no Brasil, ela criou, em 1974, no quintal de sua casa em Petrópolis, “A Hortênsia e a Galinha”, em homenagem aos desaparecidos políticos, como seu próprio irmão, morto pela ditadura.A artista, de 84 anos, circulou pelo salão com os braços estendidos, segurando um pedaço de tronco, com um manto formado por véus de mais de 10 metros de comprimento. Com o círculo formado pelo véu, ao caminhar, ela se ajoelhou e colocou o tronco no centro, incluindo três máscaras de animais feitas por tupis-guaranis da fronteira do Brasil com a Argentina, tudo ao som de “Requiem”, de Mozart. Depois arrastou os véus até o grande painel e falou: “Eros e Thanatos (o nome da pintura), vida e morte. Salve as florestas, as matas, as aves, todos os animais. Salve os povos originários”.
“Thanatos e Eros”, um óleo sobre lona, com quase 6 metros de largura e 1,20 m de altura, foi produzido entre 2022 e 2024, para comemorar os quase 60 anos de carreira da artista “Ao nos apresentar a sua floresta, ela nos convida a conhecer um lugar sagrado, intimamente conectado às suas vivências”, diz a curadora Cecilia Fortes, que reuniu mais 27 trabalhos, alguns inéditos, com a temática botânica em diferentes nuances, “cada um à sua maneira, em estilos e mídias variados”, como pintura, escultura, desenho, fotografia, objeto, dos artistas Abraham Palatnik, Afonso Tostes, Bruno Vilela, Claudia Casarino, Claudia Jaguaribe, Claudia Melli, Duda Moraes, Esther Bonder, Farnese de Andrade, Fernando Lindote, Frans Krajcberg, Gabriela Machado, Maritza Caneca, Noara Quintana, Pedro Varela e Rosana Palazyan.
“Em algumas criações vemos natureza viva! Em outras, natureza morta. Há paisagens transitórias e plantas artificiais – ora o artificialismo é trazido manualmente pela artesania humana, ora com o uso da tecnologia. Há os que retratam a beleza das flores, outros abordam o futuro da mata atlântica diante da exploração predatória. Temos ainda aqueles que transformaram resquícios de floresta em insumo para as suas criações, e os que fazem alusão à temática botânica para discorrer sobre temas sociais”, explica a curadora.