A onda de generosidade para o Rio Grande do Sul é mundial. Entre os cariocas, muita gente fez doações e ninguém fica sabendo; já outros publicam nas redes. Em almoço no Guimas, administradora de empresas que não quer o nome publicado, uma das doadoras silenciosas, interpreta essas atitudes como sendo para dar um lustre na própria imagem; no fundo, sem ligar a mínima para a dor do outro. E certa jornalista comentou: “O que interessa neste momento desesperador é a boa ação, voluntária, venha do ego ou de onde vier — o mais importante é que o dinheiro chegue aos desamparados. E não poderia ser para animar outros a fazerem o mesmo?”
Em meio a interpretações superficiais, a coluna procurou o psicanalista Arnaldo Chuster: “A única recompensa da virtude deve ser a própria virtude. Essa frase é do escritor e poeta Ralph Waldo Emerson. Podemos entender que doar para ajudar o próximo deve ser o único motivo de felicidade. Não podemos esperar reconhecimentos e recompensas desse ato; somente o ato em si deve recompensar. O ato de doação é um ato de respeito à vida, de amor pela vida, de onde derivam as demais formas de amor.”
E completa: “Quem doa para se mostrar, exibir algum tipo de qualidade, somente o faz por narcisismo ou para obter recompensas indevidas, portanto corrompe o ato. Aristóteles entendia de forma semelhante: a virtude é uma prática que deve ser um hábito que inclina a pessoa para o bem, que é a busca da felicidade. Não é nenhum ato de virtude, por exemplo, se um governo antecipa direitos das pessoas como se estivesse doando. Na verdade, é um ato vil de propaganda narcisista, visando a benefícios egocentristas.”
Foto: Jeff Botega/Agência RBS via Reutters