Do cinema Subaé, em Santo Amaro da Purificação, para o mundo. Antes da música, Caetano Veloso se apaixonou pelo cinema que assistia na única sala da cidade onde nasceu e, essa história está em “Cine Subaé – Escritos sobre cinema (1960-2023)” (Companhia das Letras), organizado por Claudio Leal e Rodrigo Sombra, com textos do artista, lançado nessa terça (21/05), no Teatro Clara Nunes, no Shopping da Gávea, sob apoio da Janela Livraria – o que era pra ser um encontro sobre cinema, virou um deleite para a plateia, com a conversa entre os três, algo como nada-me-faria-mais-feliz.
O livro, dedicado a Duda Machado, ao poeta e amigo dos tropicalistas, e a Rodrigo Antônio Viana Telles Velloso, irmão mais velho de Caetano, de 89 anos, tem 64 textos, sendo 46 inéditos em coletâneas do artista, 12 entrevistas e 76 fragmentos de opiniões de filmes e diretores. “Caetano compartilhou memórias, escreveu uma bela introdução e Paula (Lavigne) foi a grande estimuladora do projeto”, diz Claudio, completando que a ideia do livro surgiu da paixão de Caetano por filmes e como os descreve e demorou quatro anos para ficar pronto, depois de muitas pesquisas. Na introdução consta que “Gilberto Gil considerou que os filmes ficam ainda melhores nas suas descrições. Os amigos podem ser levados à frustração no contato posterior com uma obra, pois tudo se torna mais vívido em sua narração de planos, sequências, figurinos, atuações, trilhas, tramas e subtramas”.
Os ingressos (são quase 750 lugares) voaram e parte do dinheiro foi para o RS, numa ação do movimento “342 RS”, do coletivo criado por Paula Lavigne.
Quem conhece, sabe que quando Caetano começa a falar, ele dispara e foi assim, sobre muitos assuntos, incluindo matemática (seu primeiro filho, Moreno Veloso, é físico por formação). “Por ser lógica, a matemática nunca me fascinou. Eu era antimatémático, o Moreno me ensinou muito e a compreender melhor coisas do (Serguei) Eisenstein, por exemplo”, contou.
O cinema o conquistou quando tinha 15 anos, assistindo a “La strada”, de Federico Fellini (1920-1993), numa sessão matinal. “Voltei pra casa e nem consegui almoçar. Fiquei chorando no quintal. Foi um impacto muito grande. Ali percebi que o cinema podia representar os aspectos mais misteriosos, interessantes e profundos da vida”. E assim começou a saga do Caetano cinéfilo, que culminou com a direção de “O cinema falado”, lançado em 1986, quando obrigou o então notívago Caetano a madrugar para estar no set de filmagem.
O papo foi entremeado com a cenas de filmes que trazem o nome de Caetano Veloso na ficha técnica, seja como ator – como em “Os herdeiros” (1969), filme de Cacá Diegues cujo frame foi extraída a foto da capa de “Cine Subaé” –, seja como compositor, caso de “A dama da lotação” (1978), filme dirigido por Neville d’Almeida com base em obra de Nelson Rodrigues (1912 – 1980).
A pandemia fez com que o cinéfilo ficasse mais em casa, assistindo aos títulos e programas de interesse na TV, excluindo séries de seu catálogo. “Paulinha é que assiste a séries. Assisto às notícias e, depois, Multishow por causa dos programas de humor. E acabo assistindo a filmes também”, disse.