Sessão de “Terra Revolta: João Pinheiro Neto e a reforma agrária”, no Estação Net Gávea, nessa quinta (04/04), levou muitos convidados ao cinema.
O filme surgiu da inquietude do economista Henrique João Pinheiro, filho de João Pinheiro Neto, sempre pensando na relação com seu pai, morto em 2006, a partir do envolvimento dele com o governo pré-ditadura. Henrique procurou Bárbara Goulart, neta do ex-presidente João Goulart e pesquisadora acadêmica do período do avô no governo, para uma homenagem a seu pai e ela sugeriu fazer um livro, mas ele queria um filme: “Meu sonho é que o filme seja assistido nas faculdades, escolas , assentamento do MST…”, disse Henrique. Tudo resolvido, Bárbara chamou o diretor audiovisual Caio Bortolotti para costurar a história.
“Meu pai era advogado e jornalista, com raízes na política mineira tradicional, ligada ao PSD de JK, mas acabou se aproximando do trabalhismo de João Goulart através do seu querido amigo Samuel Wainer. Foi ministro do Trabalho e Previdência Social aos 33 anos (1961-1962); em seguida, ministro da Reforma Agrária (1963-1964). JPN mantinha silêncio sobre sua participação no governo Jango, talvez por medo, penso hoje. Os ‘anos de chumbo’ eram implacáveis: todos que tiveram alguma participação no governo anterior eram perseguidos e vigiados. Seus passaportes foram confiscados, não podiam deixar o país”, disse João recentemente à coluna.
Na plateia, parte da família Goulart, incluindo Maria Thereza, viúva de Jango, além dos Pinheiro, os cineastas Bruno Wainer e João Jardim, e a diretora de fotografia Maritza Caneca atentos à história do trio que desenvolveu o roteiro a partir de arquivos pessoais de JPN, das memórias de amigos, parentes e colegas de trabalho e de documentos históricos, que registra aspectos do período pré-ditadura, especialmente de nomes que atuaram com Jango na tentativa de promover alguma justiça social no país antes de serem destituídos pelo golpe. “Já adulto, descobri que minha mãe guardara, num armário do escritório dele, um verdadeiro arquivo pessoal da sua passagem pelo governo Jango. Eram recortes de jornal, vários de primeira página, colados em álbuns de fotografia, um verdadeiro acervo público. Daí o documentário, a busca por uma reparação. Sua história foi de extrema coragem e idealismo: estava do lado certo da história, pagou um preço altíssimo; por isso, achei que merecia ser compartilhado”, diz Henrique.