Rio das Ostras, o novo CEP gastronômico da Região dos Lagos, está fazendo 32 anos nesta quarta (10/04). O presente é um espumante para chamar de seu, ou melhor, dois: Pérola Brut (chardonnay e pinot noir) e Pérola Moscatel, ambos vindos diretamente da Serra Gaúcha, feitos na Lidio Carraro, vinícola boutique no Vale dos Vinhedos, que assinou os vinhos da Olimpíada no Brasil. Serão mil garrafas de cada um, para celebrar em alto estilo o balneário fluminense de oito mil habitantes e que, de cinco anos para cá, vem despontando como destino de comer e beber bem.
A iniciativa do vinho é da Madame Merlot, personagem quase tão icônica como a casa que leva seu nome, um misto de adega e bistrô, onde o chef Maurimar assina o menu, que tem início com arancini de cordeiro e passa por cogumelos Paris com creme de gorgonzola, fettuccine com cavaquinha (local), até chegar a um prime rib duroc (corte feito na transversal, incluindo o lombo e a costela) com purê de feijão-branco e repolho; além de pescados daquela costa (camarão e dourado). No almoço, executivo por R$ 89.
A “madame” em questão é a sommelier capixaba Geni Machado, proprietária da adega que vem pondo vinho bom na taça dos moradores e turistas. “Fui criada em Rio das Ostras, que, a partir de agora, vai voltar a ter ostras (risos)”, brinca, sobre as ostras que chegam de SC, diretamente para seu restaurante, no interior da adega.
Harmonização ali é coisa série: espumante Garbo (enologia criativa) e segue com Laroche Chablis premier cru safra 2020, Garzon tannat single vineyard safra 2020 e Domaine Seguinot bordet petit Chablis.
O Madame, no entanto, é apenas um no meio de tantos endereços surgindo de carona numa nova leva boa de bares e restaurantes na Costa Azul, área mais badalada de Rio das Ostras, onde o epicentro do fervo funciona dentro do Hotel Atlântico, o Galleria Gastrobar — um ponto de encontro dos amantes de blues e jazz e também da boa mesa, capitaneada com toda maestria por uma outra capixaba: Penhamara Araújo, com ajuda da sócia e chef Silvia Stanzani. Ela é sobrinha da sócia do Atlântico, Penha Araújo, que trouxe centenas de fotografias de famosos das viagens para o exterior ao longo da vida.
Um ponto de encontro para ouvir jazz e blues fora do festival é o ali, no Hotel Atlântico, que está fazendo 40 anos; portanto, anterior à emancipação de Rio das Ostras, antes pertencente a Casimiro de Abreu.
“Importei um pouco da culinária e cultura capixaba para cá, inclusive no preparo dos pratos, em panelas de barro, um patrimônio imaterial no Espírito Santo, fabricadas por mulheres paneleiras organizadas em cooperativas”, comenta Penharama. “Trabalhamos também com as desfiadeiras de siri.”
A moqueca capixaba (sem dendê, nem leite de coco, nem coentro) faz sucesso por ali, mas não tanto como a torta capixaba, com mariscos na massa.
Atenção para algumas pérolas locais que não podem faltar em seu tour. O Bartrô, do chef ex-engenheiro Pedro Rodrigues, tem 20 anos de Rio das Ostras, servindo produtos frescos e insumos daquele mar: congro-negro, “caviar” de tomate-seco e molho de tamarindo. Atenção para o steak au poivre (coberto com grãos de pimenta grosseiramente quebrados), dos tempos áureos de José Hugo Celidônio (ele frequentou a cidade por anos) em seu Club Gourmet, irrepreensível no ponto da carne e no sabor do molho.
Ah! Não deixe de contemplar o lindíssimo pôr do sol do quiosque da Tia Daci, que serve kibe de peixe com camarão (R$ 10). Você vai querer voltar só para pedir mais! A saideira? No Pátio Costazul, onde tem o craque Guto Chamarelli, proprietário da World Drinks, fazendo estripolias com as mãos em criações autorais.
Cozinha simples e confortável: Casa do Mar, onde se degusta camarão empanado ou flambado no conhaque no abacaxi (R$ 69,90) com catupiry e queijo canastra, muito bem acompanhando de um gim tônica de limão siciliano (R$ 38).
Um pulo na vizinha Casimiro de Abreu, e você pode almoçar à beira do Rio São João, no restaurante Simpatia (“Simpatia é quase amor” dá nome ao poema de Casemiro), onde há boas opções de frutos do mar (mariscos, polvo e lula), além de pescados e o carro-chefe: pescada grelhada ao belle menuère (molho à base de vinho branco), servida com risoto de siciliano e batatas rústicas (R$ 176, para três pessoas). Mais adiante, no Capri, o chef Paulo Fernandes trabalha com ostras e vieiras frescas, mexilhões de Búzios, polvo e lagosta.
Rio das Ostras é azul; são 17 praias em 28 km de orla. É também a capital fluminense do jazz e do blues, segundo decreto de uma lei estadual. Anualmente, tem festival do gênero em cinco palcos pela cidade, no feriado de Corpus Christi: mais de cem horas de música, 300 artistas, incluindo atrações internacionais. O curso de produção cultural da UFF existe em razão do jazz. Quem sabe não surge ali uma faculdade de gastronomia?