A atividade política não é exclusiva dos senadores, deputados e vereadores. Todo cidadão deve se ocupar de assuntos públicos, seja com sua militância, com suas opiniões, com seu voto ou com outra atividade que exerça em prol do bem comum. O homem é um animal político, na medida em que precisa conviver. Como chegar a melhor forma de viver em comunidade? Apenas teremos essa resposta escutando a opinião uns dos outros.
Portanto, é fundamental que as pessoas discutam temas políticos, com toda a liberdade e franqueza. Numa sociedade saudável, os cidadãos desenvolvem o costume de falar e ouvir com serenidade os temas de interesse comum.
Num claro sinal de desenvolvimento, numa prática sem proveito, as conversas sobre política têm sido marcadas pela emoção e pelo radicalismo. Ora, política não é futebol. Ao contrário do futebol, quando os torcedores são dominados pela paixão, a arena política deve ser governada pela racionalidade, pela compreensão de que todos visam ao mesmo fim – uma sociedade justa e solidária – e que as divergências são construtivas, pois nos fazem refletir – seja para mudar de ideia, seja para reforçar convicções.
Infelizmente, muitos diálogos sobre política são abortados ou nem mesmo começam porque um dos interlocutores ou os dois já estabelecem, de antemão, alguma espécie de “lacração” (para usar um termo da moda). “Nem ouço o que [tal pessoa] fala porque ela é [isso ou aquilo]”, costumo escutar. Em certas ocasiões, sou advertido: “[Tal pessoa] é ótima, mas não fale de política com ela, porque ela votou no [certo político]”. Num ambiente sadio, convenhamos, deveria ser justo o oposto. Ganhamos pouco ao limitar nossas conversas com alguém que pensa exatamente como nós. De outro lado, ter contato com outros pontos de vista nos apresenta novas perspectivas. Apenas assim nos aprimoramos.
O tema ganha complexidade porque uma discussão sobre temas políticos pode descambar para os mais variados assuntos: econômico, diplomático, jurídico, ético, … Não necessariamente concordamos com o político que votamos em todas as suas posições. Nada justifica uma submissão cega a algum político — isso seria fanatismo, burrice, miopia intelectual. Ademais, o prejulgamento de uma pessoa levando em consideração apenas o voto dela demonstra uma subestimação do próximo — em outras palavras, arrogância.
A democracia deve ser cultivada. O primeiro passo do democrata é ouvir o outro. Sem diálogo, não avançamos. Já é hora de falarmos de política sem ódios e sem preconceitos.
José Roberto de Castro Neves é nome destacado no Rio: doutor em Direito pela UERJ e mestre pela Universidade de Cambridge, Inglaterra. É professor de Direito Civil da PUC-Rio. Publicou e organizou mais de três dezenas de livros sobre História, Direito e Literatura.
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