A jornalista Maria Vargas pegou um táxi de uma cooperativa que fica próxima ao Shopping Leblon, no fim de tarde de segunda (18/12), com direção a Ipanema. Logo que entrou no carro começou a tocar “Drão”, de Gilberto Gil “…o amor da gente é como um grão, uma semente de ilusão, tem que morrer pra germinar….”, o taxista mudou a estação. Maria lamentou e pediu pra retornar à música. O motorista respondeu: “Não ouço música de artista de esquerda”.
Ela, atônita, perguntou o motivo. Ele repetiu. “Pedi para parar o táxi porque aquela fala dele me agredia e ele disse ‘com todo o prazer. Você perguntou o porquê mudei de estação, e eu fui sincero’”. Maria desceu do carro e foi andando.
O fato não é isolado, com várias histórias parecidas em redes sociais, desde as eleições de 2018.
O jornalista e escritor Thomas Traumann, em parceria com o cientista político Felipe Nunes, acaba de lançar “Biografia do Abismo”, exatamente sobre como a polarização política se instalou de maneira profunda em toda a sociedade. “A polarização pode ser algo saudável, desde que se permaneça ‘dentro do debate de ideias’, o que não foi o caso. O país vive um momento em que esta polarização passa a ser um debate de valores, em que um lado discorda do outro, e não se respeita a existência do outro”.