Eu começaria dizendo que grande parte da alma de Búzios é argentina — os argentinos chegaram aqui muito cedo. Ramon Avellaneda criou a pousada do Sol na Rua das Pedras, quando ainda era terra batida, na década de 1960. Ali, Brigitte Bardot se hospedou. E meu pai, que era belga-argentino, Claude Dechamps, conheceu Búzios pelo casal Ramon e Marcela Avellaneda, vindo pra cá em 64. Minha mãe descobriu que estava grávida de mim aqui. Encantaram-se com essa aldeia de pescadores, ainda com porcos e cavalos soltos na rua. O bom gosto imperava porque os argentinos estavam presentes. Eles sabem fazer bem essa coisa charmosa: madeira, palha etc. Acredito que nosso maior turismo segue sendo argentino; essa é uma boa razão para tratá-los muito bem.
O assassinato de Florencia Aranguren me deixou péssima, angustiada, chorando muito. Chorei por ela, chorei pelo cachorro, chorei pela magia do meu Búzios de infância que ficou no passado. Florencia estava curtindo esse Búzios como a gente curtia antigamente, mas esse lugar encantado está tão distante, e mais distante ainda do que poderia. Isso me deixa arrasada.
A Prefeitura precisa formar uma força tarefa de segurança, tem que mudar alguma coisa. Não adianta ficar fazendo o mesmo projeto, porque não está adiantando. Nós temos 300 guardas municipais contratados, engordando a máquina; sim, nós pagamos 300 guardas municipais. Minha mãe mora no centro; lá, por exemplo, não vejo nenhum.
Temos que proteger nosso paraíso porque vivemos de turismo. Esse lugar tem um potencial incrível, gigante, então vamos fazer como fazem todos os lugares turísticos. Contrariando a prioridade do prefeito, que quer fazer muita obra, tirar árvores, colocar intertravado, o turista que vem pra cá não quer o cimento. Ele não quer desenvolvimento, ele não quer o árido, ele não quer tanta estrada — ele quer uma cidade rústica, ele quer a natureza, ele quer o caminho de terra, ele quer andar em paz.
Para isso, precisa haver fiscalização nas trilhas, nas praias; o pessoal de Manguinhos colocou câmera na praia inteira; então, o prefeito está priorizando o errado. Se ele conseguir resolver a segurança, com certeza, seu reconhecimento será unânime.
Vivemos do turismo, e a segurança é prioridade. Peço que copiem e colem outros países.
Usem guardas fiscalizando trilhas, praias, parques; sim, guardas fazendo turnos, circulando, sentados numa sombra com roupas leves, mas presentes. O município precisa se fazer presente onde o turista está.
Durante muitos e muitos anos fiz matérias pro Fantástico, pra Caras, pra Vogue, pra Elle, pra Claudia, além de revistas internacionais, sempre falando as maravilhas e belezas de Búzios. Nunca imaginei ter que fazer entrevista sobre este tema. Realmente os tempos mudaram, mas podemos ser melhores do que isto. Com certeza podemos ter menos balada e mais ordem!
Foto: Deb Ramos
Alexia Dechamps é atriz e ativista animal. Mora no Rio, tem casa em Búzios, onde frequenta desde a barriga da mãe. É interessada na vida, na política e na preservação.