A figura da primeira-dama — seja de presidente, governador ou prefeito — sempre traz em si alguma curiosidade, mesmo porque ninguém sabe ao certo qual a função ou se elas têm algum “cargo” oficial quando o marido é eleito. Quase sempre, a mulher do político assume um posto mais social e sem salário — o que pode acontecer é estar à frente de instituições. O título foi inspirado pelo modelo americano, e, teoricamente, seu papel é desempenhar aquilo que o marido não consegue por falta de tempo, liderando campanhas de caridade e de voluntariado. E falta de tempo é o que Eduardo Paes mais tem — sabe-se ser ele um workaholic, que dorme em média quatro horas por noite.
Mas, para isso, está aí Cristine Paes, à frente da RIOinclui, obra social que cuida de pessoas com deficiência e suas famílias. A ONG foi criada em 1984, mas foi quando Cristine entrou como presidente, nas duas primeiras gestões de Eduardo (2009-2017), que ela direcionou as atividades para esse segmento específico. Desde então, foram mais de 30 mil pessoas beneficiadas, incluindo programas, como o “Moradia e Acesso” e também a capacitação profissional de mulheres e campanhas de doações.
Uma das principais ações acontecerá na quarta (07/12), no Palácio da Cidade, em Botafogo, com a 2ª edição do bazar RIOinclui no mês do Natal, com renda integral para o Programa Moradia e Acesso, que reforma casas acessíveis a deficientes na Rocinha. São mais de 1.300 peças (300 a mais que na última edição de agosto, que alcançou R$ 64 mil) seminovas com preços a partir de R$ 20: roupas, bolsas, acessórios e itens de decoração com descontos de até 50% em relação ao preço original. Cristine também vai selecionar algumas peças do seu próprio guarda-roupa.
Além da moda, tem música ao vivo, DJ e estandes de comidas e bebidas. “A primeira edição foi um sucesso: grande parte foi vendida logo nas primeiras horas. É uma renda muito importante para dar continuidade aos nossos projetos”, diz ela.
Cristine foi criada no Leblon, é formada em Engenharia Elétrica pela UERJ; deixou o trabalho, em Furnas, quando virou mãe (de Bernardo, hoje com 18 anos, e também de Isabela, com 17). Sempre foi discreta nas aparições públicas, mas o tempo todo ao lado do marido, a quem conhece desde 1998. Essa semana (29/11), Paes fez uma declaração de amor nas redes pela comemoração de 20 anos de casados: “Vinte anos se passaram e nosso amor e cumplicidade só aumentam. Obrigado por me acompanhar nessa linda jornada da vida.”
É a segunda edição do bazar, com 300 peças a mais. Qual a sua dedicação? Quantas pessoas na equipe, quanto tempo para arrecadar, separar, higienizar, até chegar à etapa final?
A primeira edição do Bazar foi um sucesso. Montamos um verdadeiro time a favor do bem. Tivemos o apoio de muita gente; cada um doou o que podia: roupas, tempo de trabalho… Agora, não é diferente, e novamente estamos contando com muita ajuda voluntária. É um time de amigos bem próximos; estamos há 45 dias recebendo e organizando todas as doações. Aos poucos, estamos montando uma estrutura que vai evoluir a cada edição. Queremos que esse bazar entre no calendário oficial da cidade. Nossa meta são dois eventos por ano, lembrando que nosso objetivo é ajudar nossas crianças e adolescentes com deficiência.
Você é ligada em moda? Como definiria seu estilo?
Não ligo muito para moda. Sou uma pessoa simples, com um estilo que preza pelo conforto. Sempre uso o que me cai bem e o que me veste bem. Se tiver que escolher entre o mais moderno, mais luxuoso ou mais confortável, dependendo da ocasião, o mais confortável vai sempre sair em vantagem.
Seu conhecimento com tanta gente facilita na hora da produção? As pessoas já dão um “sim” quando sabem que é pra você?
A vida não é tão simples assim. Presidir uma organização social é um desafio – as pessoas não dão “sim” para tudo. O primeiro desafio é mostrar a seriedade do nosso trabalho. Quando as pessoas verificam e comprovam que estamos transformando a vida de crianças e adolescentes, tudo fica mais fácil.
Você opina no figurino do marido? Se deixasse, veríamos outra coisa?
O Eduardo tem um estilo muito próprio, mas sempre me pergunta se está bem. Dou minha opinião, mas ele tem muita personalidade. Fico sempre de olho se meu marido está adequado ao ambiente e ao clima do evento. Acho que interfiro pouco, mas ele sabe que, se não tiver bom, eu vou falar.
Quais as novidades desse bazar comparado ao de maio? Vai colocar peças suas? Poderia falar sobre elas?
Tem muita coisa de grife, tem muitas peças minhas e outras da minha filha, Isabela (saias, blusas, vestidos, sapatos). Ao todo, são mais de 1.300 peças, seminovas em ótimo estado de conservação, com preços a partir de R$ 20. Também participam 30 marcas de moda feminina, masculina, teen e infantil.
O que mudou na sua vida ser presidente de uma ONG?
Mudou muito a minha visão, principalmente sobre o que é levar uma vida com deficiência. Atendemos crianças e adolescentes com deficiência, em situação de vulnerabilidade, que enfrentam muitas dificuldades e precisam de adaptações. Quando começamos a conhecer essa realidade, nossa visão de mundo muda muito. Começamos a dar valor a coisas simples, que antes não parávamos para pensar. Como nas outras gestões, também estive nesta liderança, e meus filhos puderam crescer com este olhar. Hoje, eles são jovens muito atentos e sensíveis a essa causa.
Nessas ocupações que o cargo de primeira-dama pede, qual é o seu maior prazer? Por quê?
Ser primeira-dama de uma cidade como o Rio não é uma coisa simples, existe uma responsabilidade, mas a melhor coisa de todas as funções é poder ajudar as pessoas. Fico muito feliz quando, por meio das minhas ações, a vida de uma criança se transforma. Ver a felicidade nos olhos de quem mais precisa é gratificante.
Tem inspiração em alguma primeira-dama? E como você pretende marcar sua passagem no posto?
Todas as primeiras-damas me inspiram; cada uma tem um perfil diferente. O importante é você ter a meta que quer alcançar com o trabalho a ser feito bem definida e, claro, se espelhar em boas práticas. Todas as mulheres que trabalham em prol da transformação da sociedade são inspiração.
Lá ainda no 1º mandato, você era mais tímida, calada, mas, com o tempo, ficou bem mais ativa. Como trabalhou (ou trabalha) isso em você?
Nunca fui tímida e calada; na verdade, as pessoas é que não me conheciam direito. Eu era reservada e discreta, na minha. O que acontece é que, hoje, as pessoas me conhecem mais. Isso faz total diferença. Não mudei minha personalidade, pelo contrário: com o passar do tempo, consegui me apresentar e mostrar como eu sou.
Você costuma dizer que se acostumou com o ritmo de trabalho do marido… Você cuida da casa enquanto ele cuida do Rio?
Não me acostumei com o ritmo do Eduardo, não. Desde de que eu o conheci, ele já era assim: trabalhava num ritmo alucinante. Aqui em casa, não tem essa de “eu cuido da casa e ele, da cidade”. Na verdade, eu ajudo o Eduardo a cuidar do Rio. Sempre que possível, dou sugestões, ideias e ouço muito o que ele tem a dizer sobre os projetos e metas para deixar a cidade cada vez mais maravilhosa.
Foto: Beth Santos/Prefeitura