Se o Brasil fosse uma novela, o personagem Xeréu Trindade, interpretado por Gabriel Sater, em “Pantanal”, na TV Globo, teria um capítulo especial nesta terça (04/10). Se você assiste ao folhetim escrito por Benedito Ruy Barbosa/Bruno Luperi, sabe que o personagem fez um pacto com o “cramulhão” (e seus diversos apelidos: capeta, satanás, belzebu, coisa-ruim, chifrudo, pé-de-bode, cão, anjo caído…) em troca de algo, o que resulta no aprisionamento da alma e do coração de quem faz o pedido.
Na vida real, os personagens principais são os candidatos à presidência, Lula e Bolsonaro. E olha que a guerra pelo segundo turno mal começou! Entre os assuntos mais comentados do dia do Twitter mundial estão “Bolsonaro Satanista”, “Fake News”, “Traidor”, “Muito Grave”, “Safado” e por aí vai.
Tudo começou na última sexta (30/09), com um vídeo do influenciador Vicky Vanilla, divulgado nos apps de mensagem, que se identifica como “sacerdote da igreja luciferiana”, que descreve diante de uma bandeira de Lula uma suposta união de diferentes religiões com segmentos satanistas e do ocultismo para, de alguma forma, garantir a vitória do petista no primeiro turno. A repercussão foi tão grande que a campanha de Lula produziu um comunicado, nessa segunda (03/10), com o título “A verdade sobre Lula e o satanismo”, enfatizando que o ex-presidente é cristão (católico) e “não tem pacto nem jamais conversou com o diabo”.
Depois da repercussão, Vicky gravou outro vídeo dizendo que não vota em Lula e que os militantes de Bolsonaro o tiraram do contexto.
Enquanto isso, as redes resgataram um vídeo de Bolsonaro, em 2017, quando discursava numa loja da Maçonaria — o envolvimento em rituais maçônicos é proibido pelo código de direito canônico da Igreja Católica e Evangélica. Nas redes, as imagens são usadas para aumentar a rejeição de Bolsonaro entre os evangélicos. No meio, é comum encontrar teorias conspiratórias e falsas relações da maçonaria com “satanismo”.
O Brasil possui uma das maiores populações cristãs do mundo — segundo pesquisa DataFolha de 2019, 50% dos brasileiros se declaram católicos e 31%, evangélicos, ou seja, o impacto na religião afeta o resultado das eleições.