Teatro infantil, normalmente, oscilava em dois polos. Peças tão maduras que ficavam incompreensíveis para as crianças ou o oposto, adaptação de contos de fadas, que tratavam as crianças como incapazes. Quando se vê o trabalho de teatro infantil da Cia. Cerne (de São João de Meriti) em Uma História de Rabos Presos, fica claro o encontro feliz entre a mensagem da peça e adequação ao público.
Uma produção caprichada nos cenários, figurinos, luz, Uma História de Rabos Presos foi livremente inspirada no livro homônimo de Ruth Rocha, vencedor do Prêmio Jabuti em 1990. A adaptação e direção de Vinicius Baião consegue, no corretíssimo tempo de 45 minutos, ao mesmo tempo atualizar e se manter fiel ao conflito entre políticos corruptos, empresários corruptores, e tipos representantes da sociedade civil (o artista, diretora e um cidadão).
Os cincos atores, em uma atuação com uma pegada cômica, dançam, cantam
de forma eficiente, mas sem caricatura. Há o normal, e correto, exagero na interpretação. Esse procedimento é fundamental para a comunicação e participação das crianças. Além disso, os funks especialmente criados, um gênero bastante popular, dá o ar de musical, o que anima ainda mais a peça.
Os cinco atores, todos artistas da Baixada, Nosberto (MC Nós), Leandro Santanna (Prefeito Filisteu), Gabriela Estolano( diretora) Higor Nery (egas) e Leandro Fazolla (Coronel Eurico) utilizam o cenário e o palco de forma lúdica,dançando e cantando com total animação. No clima de festa infantil, a oposição entre o mal ( o político e o empresário) e o bem ( o povo) vai em um crescendo e se mistura até separar o certo do errado.
A metáfora concreta de os corruptos irem ganhando rabos, esses irem aumentando até prender o Prefeito e o Fazendeiro, transformando-os em uma pessoa só, fica bem real com os rabos e os bonecos criados por Leandro Fazolla. Essa comovente história, ainda que muito divertida, é uma lição para as crianças e adultos sobre como a corrupção é um enorme equívoco, como prejudica as pessoas. Mas o final ainda é melhor, pois dos detentores dos rabos ficam efetivamente presos.
Serviço:
Centro Cultural Justiça Federal, no Centro
Sábados e domingos, às 16h