O que nos emociona, move e inspira? Quando a casa tem objetos apaixonantes para seus donos, as pessoas transformam aquele lugar, como diz tão sabiamente o imortal Gilberto Gil: “O melhor lugar do mundo é aqui e agora…”. E assim nada é mais importante ou mais interessante do que ficar aconchegado e acolhido nesse espaço mágico, único e apaixonante.
Quando temos essa relação de amor com a nossa casa, somos retribuídos. Apesar de parecer simples, saber transformar um espaço que traduza e produza esse sentimento não é fácil. Uma tarefa constante no trabalho do arquiteto é saber traduzir e entender esse sentimento de emoção e amor entre o espaço e seu dono.
Apesar de soar técnico, a tarefa é bem mais sutil e lúdica do que parece. Entender emoções e sentimentos simultaneamente com a técnica é uma equação matemática e emocional. O importante é uma criação harmônica e feliz como resultado.
Uma casa pode parecer perfeita, contemporânea, supercontextualizada com tendências etc., mas, quando não existe uma conexão com quem mora ali, nada funciona bem, criando uma atmosfera impessoal.
A arquitetura espontânea, habitual em áreas rurais, nos ensina muito: vemos ali essa conexão perfeita feita de forma muito natural e direta. O que esteticamente emociona, os espaços mais utilizados, os locais que agregam toda a casa gira em torno disso, e a arquitetura se desenvolve através dessas informações inconscientes. Por isso, as casas simples nas áreas rurais são tão aconchegantes.
Perguntamos ao empresário Victor Patiño, que mora na Europa há 40 anos, e já trabalhou como diretor de marcas, patentes e novos investimentos nos grupos Prada e Gucci — e agora se divide entre suas casas em Palermo, Paris e Rio —, como viver em vários lugares e manter o mesmo estilo de vida em todos eles?
“Morei por anos no exterior e sempre carreguei meus afetos. Tenho uma vida cheia de amigos maravilhosos e de muitos encontros. Em minhas casas, tenho objetos que representam essa trajetória, presentes de amigos, de viagens, da família… e álbuns lindamente encadernados com registro de uma vida, convites, entradas de teatros, etc. Na pandemia, revi tudo e cheguei a um encontro de paz interior e tranquilidade que me fez enxergar que, hoje em dia, não preciso mais carregar uma casa como um caracol, transportando tantas coisas apesar de serem lindas e amadas”.
E continua: “O que interessa é estar bem comigo mesmo em qualquer lugar – minha casa sou eu. Refiz meu pensamento em relação a muitas coisas. Hoje acho moderno e contemporâneo ter uma vida voltada para o bem-estar e paz interior e ficar numa casa que reflita isso. A casa moderna é prática, funcional e elegantemente simples. Um item de que não abro mão é a minha biblioteca, que me acompanha e me acompanhará sempre. Vejo o mundo hoje com outros olhos… Continuo apostando na força da beleza estética, na harmonia com a natureza, nas referências de afeto, nas trocas afetivas entre as pessoas, mas a importância máxima que permeia tudo isso é estar em paz com você mesmo. A tranquilidade e o amor que buscamos estão nesse encontro conosco e ter uma casa que reflete isso.”