A vida no Brasil Profundo corre de outro jeito. Tem sempre um rio, plácido, que cruza a cidade, que divide os locais, junta as pessoas, concentra as brincadeiras. O rio cria os laços e embala a vida que segue. As mulheres, voltadas para as atividades dentro de casa, vêm no rio seu destino, seu caminho, a mudança. Mas há sempre quem veja além disso, quem se acolhe na imaginação para criar novos destinos para rio. Assim fez a artista Cora Coralina. Assim, Raquel Penner criou o espetáculo Cora do Rio Vermelho.
Com o cenário repleto de objetos que retratam fielmente o ambiente de um casa de interior, com o enorme espaço ocupado pela mesa, Raquel de forma direta e carinhosa começa mostrando a história de Cora como menina, seus impasses angustiados de não alcançar os padrões da família. Mas Cora é uma pequena Pangloss, o personagem de Voltaire que sempre dizia que existe o melhor dos mundos e com isso, de forma doce, no sentimento e no tacho, constrói uma extraordinária visão de mundo.
A dramaturgia de Leonardo Simões consegue de forma equilibrada fazer uma bela edição dos textos de Cora, de seus poemas, de seus inúmeros achismo o que provoca o interesse pela personagem, aparentemente tão simples, mas complexa na maneira apaixonada e positiva de encarar o mundo. A direção de Isaac Bernat elimina qualquer maneirismo, qualquer caricatura que pudesse se pensar em uma roceira fora da curva. O texto, a direção e a interpretação de Raquel nos mostra uma Cora Coralina vibrante, com humor, assertiva.
Serviço:
Teatro Poeirinha (Rua São João Batista, 104, Botafogo)
De quinta a sábado, às 21h
Domingos às 19h.
@coradoriovermelho