O que será de nós?
No dia 5 de junho, lembra-se no mundo que existe ambiente e que dele dependemos.
É apenas um dia, quando parte da atual civilização globalizada comemora, lembra, reflete, faz eventos e promessas sobre nossa relação de amor e ódio com as forças que nos geraram.
O problema é que, além de colocar em boa parte na conta das futuras gerações a mudança de nossa relação predatória com o ambiente, muito se fala, mas pouco se faz na prática em termos de mudança significativa nas estruturas que geraram esse monstro que consome mais do que o Planeta tem capacidade de repor.
Nossa civilização é uma glutona em termos de consumir recursos naturais, doentia em sua obsessão de crescimento sem limites num mundo fisicamente finito. Vai ver que é por isso que já olhamos com olhos gulosos para Marte.
Se não há consumo, na maioria das vezes descontrolado (destaco que me incluo nessa paranoia), o ser humano parece não conseguir alcançar a tal felicidade, saciedade. Somos produzidos para consumir, muitas vezes, o que não queremos tampouco precisamos; mesmo assim, continuamos consumindo, pois, apenas assim, tentamos saciar o que nos foi ensinado desde pequenos de forma explícita e ou implícita, num bombardeio constante de estímulos para o consumo descontrolado.
Quem tem muito não abre mão do que tem, e quem não tem quer alcançar os modelos de consumo dos que transbordam no excesso — aí não há planeta que aguente.
Fato é que, nessa loucura que envolve a prima rica economia, seus processos de existência e nossa neurose de consumo, a conta simplesmente não fecha.
Vivemos a sexta extinção em massa; as outras cinco anteriores foram atribuídas a fatores naturais. Na atual, a espécie humana e sua forma de lidar com quem a gerou é que aceleram o processo natural de extinção de forma apocalíptica. Contudo, enquanto houver crescimento e barriga cheia, tudo está aparentemente bem!
No entanto, não é bem assim que funciona.
Como boa mãe, até a paciência da Natureza tem limites que, se ultrapassados, a resposta é inevitável, coisa que, até pouco tempo atrás, era tida apenas como especulações catastrofistas pelos céticos e otimistas economistas.
Lembro como se fosse hoje as aulas em que eu alertava sobre os extremos climáticos e suas consequências nas cidades, e era tido como louco pelos alunos incrédulos.
Anualmente, há mais de uma década, acompanhamos, no mundo inteiro, a materialização das ondas de calor jamais vistas na Europa, temperaturas de 50 graus na Índia, redução das geleiras, incêndios periódicos e catastróficos nos EUA, chuvas torrenciais no Brasil, onde, em 24 horas, chove mais do que o esperado em um único mês, e por aí vai.
Fato é que sabotamos sistematicamente, por ação e principalmente omissão, os sistemas de homeostase planetários, responsáveis pelas condições climáticas que proporcionaram o que nós conhecemos por civilização.
Portanto, independentemente do que façamos, continuando consumindo predatoriamente, acelerando a extinção de espécies, eliminando a redundância sistêmica, suprimindo ecossistemas e ou biomas inteiros, acidificando os oceanos e acumulando, cada vez mais, carbono na atmosfera, tanto pela queima de nossas florestas como por conta das demais variadas emissões, independentemente de tudo isso, a vida encontrará seu caminho como encontrou nos últimos 3,5 bilhões de anos. Mas a pergunta é: o que será de nós?
Num passado, outras sociedades desconhecedoras dos limites a serem impostos ao ambiente, mesmo que sofisticadas para seu tempo, simplesmente desapareceram. A atual, civilização globalizada, responsável por prodígios tecnológicos cada vez mais intensos, que escrutinam das entranhas da matéria aos limites do universo observável, parece que, em sua soberba, típica da adolescência das civilizações tecnológicas, não percebe, não quer perceber, tem coisa mais importante para pensar que ainda dependemos do ambiente como nossas tatatatataatataravós cianobactérias.
Pessoalmente, não sei se o tal “juízo final” já está precificado pelo “mercado”, ente invisível que manda e desmanda no Planeta, e que “esvaziar o Planeta” já faz parte dos planos dessa turma, afinal não tem para todo mundo poder usufruir.
O que eu sei e acompanho de minha trincheira ambiental local, situada no estado do Rio de Janeiro, é que nesses 35 anos de militância ambiental, nunca vi delinquente ambiental, principalmente os “Vips”, tendo o tratamento que a lei dispensa aos degradadores do ambiente. Pode até ter acontecido, mas eu não tenho conhecimento. No entanto, lembro-me claramente de vários casos em que ambientalistas e ou profissionais do ambiente foram mortos, intimidados, expulsos e processados, funcionando como um aviso aos poucos que têm coragem de encarar esse tipo de delinquência num dos países mais letais para profissionais que lidam com o ambiente.
Em países como o Brasil, originados de colônias de exploração, a relação predatória com o ambiente é ainda uma regra de sucesso, amplamente aceita pela sociedade e pelo poder público, geralmente sempre condescendentes com o que gera dinheiro, mesmo ao preço da destruição de inteiras bacias hidrográficas, contaminação por metais pesados e esgoto sem tratamento, supressão de inteiros ecossistemas e perdas de vidas humanas. Vale tudo desde que gere algum, onde reitero, com ampla aceitação da sociedade.
Nessa história, não tem mocinho — somos uma espécie prodigiosa, mas nos tornamos uma praga aparentemente descontrolada por conta de nossa capacidade de modificar o Planeta. No entanto, para toda praga há tratamento, e aí retorno mais uma vez para a pergunta: o que será de nós?
É bom ficar “esperto”, pois, com a Natureza, não “tem essa” de politicamente correto, e basta estar no lugar errado e na hora errada para ser varrido dessa realidade, seja mocinho, seja bandido.
Portanto, finalizando, pense bem em cada eleição no que você estará escolhendo para estar representando o que mais necessitamos neste momento, isto é, responsabilidade do momento dramático que estamos vivendo e as necessárias ações para não alimentarmos ainda mais a ira da Mãe.