O Brasil é o segundo país do mundo onde mais se faz cirurgia plástica, de procedimentos cirúrgicos estéticos, abaixo apenas dos Estados Unidos. Dessa estatística, fazem parte os adolescentes brasileiros que se submetem cada vez mais a cirurgias plásticas. Nos últimos dez anos, houve um aumento de 141% no número de procedimentos entre jovens de 13 a 18 anos. Em 2016 — ano do último censo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) —, foram feitas 1.472.435 cirurgias estéticas ou reparadoras em solo nacional, das quais 6,6% foram em pacientes nessa faixa.
Por motivos semelhantes ao da Sociedade Americana de Cirurgiões (ASPS), que não endossa o uso de implantes mamários para fins estéticos em adolescentes com idade inferior a 18 anos, legalmente, não podem consentir a cirurgia. Os pais ou responsáveis devem dar o seu consentimento, embora adolescentes devam ser capazes de aprovar o procedimento.
A adolescência é um momento de rápidas mudanças e desequilíbrios na imagem física corporal. A aparência é um fator de risco à insatisfação, podendo ter um impacto negativo na vida social dos adolescentes, que comparam seus corpos o tempo todo. A reavaliação constante da imagem para si e para os outros pode provocar mudanças contínuas, como diferentes opções de cabelos ou roupas ou, em alguns casos, comportamentos alimentares patológicos. Cirurgias plásticas são mais complexas para eles do que para os adultos, podendo existir uma gama de fatores que afetam a sua imagem corporal. A adolescência é um momento-chave, em decorrência dos desafios dessa faixa etária, tais como: o desenvolvimento puberal, a formação de identidade, a imagem corporal e a sexualidade.
Evidências prévias sugerem que pacientes adolescentes são semelhantes aos adultos, quanto à aceitação do resultado cirúrgico. Os primeiros, em sua maioria, parecem estar psicologicamente preparados para a cirurgia, podendo experimentar benefícios psicológicos no pós-operatório. No entanto, a cirurgia plástica pode não ser apropriada para todos que a solicitem, há questões de ordem psicossocial, ética, legal e cirúrgica a serem analisadas. A imagem é definida como percepções e atitudes em relação à própria aparência física sendo o mais importante fator contribuinte na formação da autoestima.
Uma das limitações da cirurgia plástica na adolescência é representada pela ausência de um completo desenvolvimento corporal. As mudanças que podem ocorrer no final da adolescência tornam-nos susceptíveis e instáveis. O estresse emocional causado pela inaceitação da aparência, podem representar um motivo adicional a essas indicações cirúrgicas. Podem também existir problemas psicossociais significativos como por exemplo inseguranças relacionadas à mama, símbolo da sexualidade feminina. O tamanho e forma das mamas podem revelar inconformidades psicoemocionais e pressões socioculturais que contribuem para a insatisfação comprometendo a autoestima desses pacientes. Além disso, adolescentes podem não ter a maturidade para considerar as consequências futuras.
Maturidade emocional é necessária para compreender as limitações da cirurgia plástica e as complicações que a envolvem. Além disso, o adolescente precisa ter atingido determinados marcos de crescimento ou desenvolvimento físico para assimilar, em sua plenitude, os resultados.
Eticamente, os cirurgiões devem fornecer aos pacientes e aos seus responsáveis, informações precisas sobre o procedimento desejado e suas consequências imediatas, em médio e longo prazo, com as orientações necessárias para que possam decidir em plenitude dos fatos.
Alberto Caldeira é mestre e doutor em cirurgia plástica, membro titular, por exemplo, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica, da American Society of Aesthetic Plastic Surgery e assim vai. Graduado pela UFMG e Mestre em Ciências pela PUC-RJ. Tem mais de 100 trabalhos científicos publicados em blogs, capítulos de livros e revistas nacionais e internacionais. Atende no seu consultório, em Ipanema.