No meu artigo anterior, mencionei os 21 tipos de manipulação citados no livro do psicólogo Yves-Alexandre Thalmann, “Como se defender dos manipuladores”. Culpabilização, vitimização, perseguição, pressão, simpatia são alguns deles.
Segundo o autor, a manipulação serve para obter algo de alguém de maneira disfarçada e dissimulada. Ser capaz de identificar essas estratégias — conscientes ou inconscientes — pode ser um primeiro passo para evitar as armadilhas que podem levar-nos a fazer algo contra a nossa vontade, seja para agradar, seja para evitar alguma consequência indesejada por medo, culpa ou vergonha.
Pelo que pude observar nos últimos 15 anos — tanto nos meus cursos, quanto através das minhas experiências pessoais e profissionais —, nem sempre, há maldade ou má intenção por trás da manipulação. Eu diria que a maioria das pessoas manipula por não ter aprendido a se comunicar e influenciar de forma diferente. Vários fatores contribuem nesse sentido: cultura, educação, crenças, falta de maturidade e consciência, dentre outros.
Para construir relacionamentos saudáveis e duradouros, é importante aprender a desarmar essas estratégias e se comunicar de forma consciente e respeitosa, em vez de manipular de volta. Segundo o autor, a manipulação sempre trará prejuízo para o relacionamento a longo prazo e reforça que “a melhor maneira de afastar a escuridão ainda é acender a luz”.
No seu livro, Yves-Alexandra Thalmann menciona também a Comunicação Não Violenta (CNV) como parte da solução. A CNV foi criada e desenvolvida pelo psicólogo humanista Marshall Rosenberg (a partir dos anos 60), trazendo a consciência sobre padrões de comunicação que alimentam a violência e os conflitos (julgamentos de valores, por exemplo) e sobre aqueles que os diminuem (escuta empática e expressão autêntica). Para ele e milhares de pessoas no mundo, a CNV se tornou uma filosofia de vida, além de um recurso poderoso, oferecendo ferramentas práticas e revolucionárias para viver e conviver melhor.
Além de proporcionar a possibilidade de libertar-se de esquemas de manipulação, a CNV pode ser um excelente antídoto para as brigas desgastantes e improdutivas, os mal-entendidos e os jogos psicológicos e de poder. Tanto nos seus workshops como nas suas mediações, Marshall Rosenberg costumava estimular as pessoas a ter conversas autênticas a partir de uma comunicação clara, precisa, empática e assertiva.
Segundo a Neurociência, ainda somos “bebês” quando o assunto é comunicação; a nossa linguagem ainda é pouco específica. Muitas vezes, não sabemos descrever os fatos sem julgar, identificar e expressar sentimentos e necessidades, nem fazer pedidos claros. A CNV atua como guia para acender a luz da consciência sobre um modo mais eficaz de se comunicar e se relacionar.
Vamos ver algumas maneiras de desarmar certos tipos de manipulação?
De modo geral, o objetivo é tornar explícito o pedido da pessoa, que não costuma ser expresso claramente.
Por exemplo, no caso de uma frase irônica:
“Infelizmente, vejo que não podemos contar com os amigos!”
Algumas respostas possíveis:
— “O que você quer dizer com esse comentário?”
— “O que você gostaria que eu fizesse?”
— “O que você espera de mim?”
— “Que tipo de ajuda você espera da minha parte?”
— “O que você está tentando me me dizer?” No caso de uma crítica (perseguição):
“Seu incompetente!”
Resposta possíveis:
— “Não gostei da sua maneira de falar comigo.” — “Lembro que somos dois adultos. O que você gostaria que eu fizesse para melhorar a situação?”
— “Você poderia me dizer exatamente como você gostaria aquilo para ficar satisfeito(a)?”
No caso de vitimização:
“Você não está nem aí pra mim! Nem adianta te pedir ajuda.”
Respostas possíveis:
— “O que você quer dizer com isso?”
—”Por que está dizendo isso?”
Aprender e dominar os conceitos da Comunicação Não Violenta para evitar e desarmar as manipulações requer um pouco de estudo e muita prática. É como aprender um novo idioma: se não praticar, nunca vai conseguir se expressar.
Para mim, foi um divisor de águas. Salvou os meus relacionamentos mais preciosos até agora. O objetivo não é comunicar-se de forma “perfeita” nem nunca errar na maneira de se posicionar. O mais importante é desenvolver uma nova mentalidade, quebrar velhos paradigmas que não trazem satisfação e buscar resultados diferentes a partir de atitudes diferentes.
Procure julgar menos e escutar mais. Procure aprender com cada troca, cada conflito ou conversa difícil. Procure aprender com cada tropeço, para tropeçar cada vez menos.
E lembre-se: aprender um novo idioma é um processo – requer tempo, dedicação, paciência e perseverança. Busque praticar a autocompaixão no caminho, para não desistir.
Boa semana!