Jules Verne, o autor francês do século XIX, escreveu livros no tempo em que não havia a classificação de literatura infantil. Escreveu mais de 100 livros, a maioria tratando de viagens, aventuras, locais exóticos e previsões de futuro. Até hoje, é o escritor cuja obra é a mais traduzida em toda a história, em 148 línguas. É desse potencial, dessa força, desse mundão de possibilidades que a Cia. Solas de Vento traz a trilogia “Viagens Extraordinárias”, para o CCBB, com “A Volta ao Mundo em 80 Dias”, “Viagem ao Centro da Terra” e “20.000 Léguas Submarinas”.
A primeira peça é “A Volta ao Mundo em 80 Dias”. São dois atores em cena, Bruno Rudolf e Ricardo Rodrigues, que encenam o criado Passpartout, que acompanha seu patrão, Mr. Fog, após este apostar que seria capaz de dar a volta ao mundo nesse prazo. A opção de encenação de Carla Candiotto é muito acertada. Há um tom de clown, de brincadeiras domésticas, de brique a braque, de uma construção exatamente como as crianças fazem. Essa aproximação com a plateia surte um bom efeito de as crianças participarem, compreenderem e se divertirem.
A utilização de projeções aumenta o apelo à imaginação, tão essencial em um mundo cujo apelo ao público infantil seja de imagens concretas, apoiando a encenação. Ao mesmo tempo, peças de ferro, rodas e sucatas manipuladas com proficiência pelos atores servem para construir os diversos lugares e transportes usados na viagem, barcos, trens, montanhas, carroça e até um elefante.
A atuação dos atores é o que sempre se deseja no chamado teatro infantil. É divertido, levemente exagerado e apelativo, mas nada que chegue próximo a tratar as crianças como pequenos seres incapazes de compreender. Assim, a torcida, natural em narrativas infantis, é feita sem ansiedade. Até mesmo o personagem inimigo tem a torcida para que fracasse, mas sem gritos.
O ponto forte é mesmo o constante apelo para que a plateia construa a sua própria narrativa. É fundamental, então, o uso de três câmeras de vídeo manipuladas ao vivo para captar e projetar, no fundo do palco, formas criadas com as sucatas, personagens e ilustrações dos lugares visitados. Uma das câmeras, pendurada no teto, permite revelar a movimentação dos atores deitados no chão, para criar imagens inusitadas e trazer uma dimensão fantástica aos episódios da história.
Serviço:
Centro Cultural Banco do Brasil
Sábados e domingos, às 16h.