Gilberto Gil já não era imortal faz tempo? Agora, com a posse na Academia Brasileira de Letras, nessa sexta (08/04), foi oficializado. Os comentários eram do tipo: “É a noite mais leve da ABL” ou “noite para ficar no coração da academia”, ou “que elenco bacana” ou o que disse a atriz Maria Ribeiro, pra resumir: “Foi lindo!” Pronto! O professor também imortal Arnaldo Niskier dizia a amigos: “A entrada do Gil para a ABL representa um fato relevante para a Cultura brasileira e é um complemento indispensável”. Para alguns, falar mal é um desejo ardente, mas, na noite do Gil, não foi fácil, tudo sob a organização de Flora Gil, que ali instalou até uma baiana do acarajé, com grande apreço de todos os convidados.
O artista, que recebeu o colar de imortal das mãos de Fernanda Montenegro, fez um discurso sem autolouvação. Aqui, algumas passagens: “Poucas vezes na nossa história republicana, o escritor, o artista, o produtor de cultura, foram tão hostilizados e depreciados como agora. Há uma guerra em prol da desrazão e do conflito ideológico nas redes sociais, e a questão merece a atenção dos nossos educadores e homens públicos.”
E continuou: “A Academia Brasileira de Letras é a Casa da Palavra e da Memória Cultural do Brasil. E tem uma responsabilidade grande no sentido de fortalecer uma imagem intelectual do país que se imponha à maré do obscurantismo, da ignorância, e demagogia de feição antidemocrática. Tive grandes êxitos e alegrias nesta vida, mas também muitas tristezas, a maior e mais dolorosa, a perda do meu filho Pedro Gil. Mas não desanimo e é preciso resistir sempre. Apesar dos tempos politicamente sombrios que vivemos aposto na esperança contra a treva física e moral. Que haja ao menos a chama de uma vela até chegarmos a toda a luz do luar”.
Naquele vaivém intenso, faltou alguém que nada faria mais feliz do que estar ali: Lilibeth Monteiro de Carvalho, comadre de Flora e Gil, madrinha de Bela, em viagem importante ao Canadá e Estados Unidos. Foi uma noite de ausência próximo de zero. Uma ausência mais definitiva fez Margareth Dalcolmo chorar: foi a primeira estada da médica ali desde a morte do marido, também imortal, Cândido Mendes, em fevereiro.
Com a fila gigantesca, muitas em saltos agulhas angustiantes (o traje pedido era passeio completo), uma cantora brincou: “Pedir passeio completo numa festa artística é o mesmo que dizer, fica atento, não venha de havaianas”, ao contrário disso, viam-se figurinos adequados, nas filas inacreditáveis para fotos e afetos com o cantor, compositor e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, novo dono da cadeira 20, que foi do jornalista Murilo Melo Filho.