Em 2017, tive o prazer de conhecer e trabalhar com o ator e rapper André Ramiro, na novela “Terra Prometida”, da Rede Record. Um dia, do nada, ele apareceu com um livro nas mãos e disse: “Quero te dar este livro; acho que ele tem a ver com você pelas coisas que fala no camarim e tal…”. Fiquei surpreso, pois nem tínhamos conversado tanto até então, e muito grato. O livro chama-se “O Poder da Kabbalah”, ou “Cabala”. Hoje posso dizer que essa é uma ferramenta realmente poderosa. Poderosa, não milagrosa por si só, pois depende de como usamos nossa consciência no Universo, proporcionando coisas boas ou não para os outros e para nós mesmos já que vivemos, o tempo inteiro, sob regras de causa/efeito.
Li o livro, apaixonei-me. Achei que fazia todo o sentido aprofundar aqueles conhecimentos e investi em cursos no Kabbalah Centre, no Rio de Janeiro. Naquele mesmo ano, fiz todos os módulos do curso básico de Cabala, além de participar de meditações coletivas, rituais espirituais e ações beneficentes. E li outros tantos livros sobre o assunto. Que ano! Os aprendizados estão até hoje profundamente enraizados em mim, por mais que atualmente não esteja participando ativamente na sede do Rio. Mas, via Instagram, sigo o professor Shmuel Lemle, que diariamente traz pílulas fundamentais desses ensinamentos, funcionando como uma espécie de carvão que nunca deixa esse fogo se apagar.
A Cabala não é uma religião, mas uma sabedoria milenar que, basicamente, explica como funcionam as leis do Universo, desde os microrganismos que habitam dentro de nós até os mais longínquos corpos celestes de um universo em constante expansão, passando por nossos encontros e relações no mundo físico e no espiritual. Tudo está interligado — nada é por acaso. Mantida em segredo por séculos, essa tradição mística também permite interpretar significados ocultos nas histórias da Torá, o livro sagrado dos judeus. E essa ferramenta veio um dia a se popularizar para que todos pudessem ter acesso a esses aprendizados e usá-los na prática, na própria vida.
Na minha, funcionou como um aprofundamento, um mergulho em minhas dúvidas e angústias, de um modo mais consciente e perspicaz. Naquele momento, comecei a me fazer perguntas íntimas, orientado pelos mestres e encontros, instigado pelas práticas semanais, na conversa com os colegas, na volta pra casa, nos momentos mais sensíveis de solidão. Independentemente de sua religião ou crença, parece-me indubitável a necessidade de, um dia, aprofundarmo-nos em nós mesmos e tentarmos nos responder sobre coisas básicas da vida. O que eu gosto de fazer? Como eu gosto? Por que estou fazendo isso? Por que estou deixando fazerem isso comigo? Por que reajo desta maneira? Por que não reajo? E por aí vai… Isso, certamente e como nunca, me fez tomar decisões importantíssimas em minha vida pessoal e profissional, com desdobramentos até hoje.
Há muitas analogias possíveis, relacionadas à prática da Cabala. Uma das que eu mais gosto é a seguinte: você está no cinema, vendo um filme ruim, mas, por comodidade (você já pagou, já entrou, já sentou), você continua vendo. Só que você sabe que, no outro lado da rua, existe outro cinema, onde pode estar em cartaz um filme bem melhor, bom mesmo, do qual você pode realmente gostar. Basta você se levantar e se dirigir ao outro cinema, assistir ao filme que você escolheu: o filme da sua vida. Ou, se pensarmos num livro, quem melhor do que você mesmo para escrever tal livro, o livro da sua vida? No entanto, deixamos que os outros, que as circunstâncias, que nossos medos e ilusões pessimistas nos travem na cadeira de um tosco filme B, quando temos potencial para sermos protagonistas de um Filme de Arte sobre a nossa própria vida.
Assim é que, hoje em dia, estou, por exemplo, envolto em múltiplos trabalhos que se desenrolam em minha estrada artística, provenientes de sins e nãos que pronunciei no passado e fizeram com que tudo se desse dessa e não de outra maneira. O teatro, quando ainda um jovem de 18 anos, foi uma escolha baseada na intuição, no prazer que aquela função me dava, no sentido que aquilo fazia. E pensei: acho que posso “fazer isso”. Anos mais tarde, paralelamente às Artes Cênicas já em curso, e ainda por uma sensação de “saudade do que não vivi”, adentrei no universo da pintura, com suas telas, tintas, cores, pensamentos e entendimento de mundo, por meio de uma outra expressão artística. Mas isso ainda em 2010, antes de conhecer a Cabala.
Hoje, continuo nos palcos e nos sets de filmagem ou gravação, também entre tintas e telas, porém mais pleno, mais confiante e alegre; mais dono de mim e responsável por minhas escolhas pessoais e profissionais. E isso é, certamente, sinal de maturidade, do que vem através de inúmeras experiências vividas, e não menos empenhadas. Contudo, a partir de 2017, é notória a vontade de crescer, de querer melhorar como ser humano e como artista, em consequência, em busca do aperfeiçoamento de viver. É estar mais presente, no presente, de verdade, cada vez mais. E então, definitivamente, isso não se trata de intuição ou leve vontade, mas de uma escolha consciente de atos e atitudes para comigo e para com o próximo, de um estado de atenção diária para contribuir eficazmente, com toda essa engrenagem que surgiu — parafraseando Clarice Lispector, no livro “A Hora da Estrela” — desde que uma molécula disse “sim” à outra molécula, e nasceu a VIDA.
Claudio Gabriel é ator, diretor e artista visual. Vai estar em cartaz com “A hora da estrela ou o canto de Macabéa”, neste sábado e domingo (09 e 10/04), no Guairão (Teatro Guaíra), no Festival de Curitiba. Também está no ar em “Além da Ilusão”, novela das seis da TV Globo, e no cinema em “Medida Provisória”, primeiro filme dirigido por Lázaro Ramos.