Newton Moreno (dramaturgo) e Sérgio Modena (encenador), dupla formada em Artes Cênicas pela Unicamp — o primeiro, pernambucano; o segundo, paulista — conseguem juntar-se em um espetáculo de raízes fortemente brasileiras, mas, ao mesmo tempo, de uma universalidade rara de se encontrar nas expressões artísticas do nosso país.
A construção da jornada de Serena, nome que já denota os objetivos da fábula — amor, fé, solidariedade —, permite que a heroína, com a ajuda das personagens de apoio, conquiste o seu Santo Graal. A “Ilíada brasileira” contém todos os pontos que compõem a saga: antagonista perverso, participação do povo, conflitos de amor, briga pelo poder, paródias, humor, personagens com nomes a partir de característica pessoal, a fé religiosa, a ligação com a natureza… Tudo está lá; não falta absolutamente nada.
Newton Moreno, autor das premiadas “Agreste”, “As Centenárias” e” Maria do Caritó”, escreve além da prosódia nordestina: transforma as palavras, as expressões, em poesia, fazendo com que o texto seja mais do que um coadjuvante das ações, repleto de pequenas frases tão cheias de sentidos que, por si só, levam o espectador a uma reflexão emocionada e emocionante. Essa lindeza está nas falas, nos diálogos e nas letras das músicas, também de autoria de Newton Moreno.
Sérgio Modena, encenador experiente de musicais, não opta pelo caminho tradicional. Vai além: constrói a opereta, um teatro musicado, pois o fio condutor são as canções (em solo ou em coral), que se juntam aos diálogos falados. O resultado da direção é um espetáculo de mais de duas horas, sem intervalo, mas que, por conta do ritmo e da excelência dos movimentos e da interpretação, deixa a plateia querendo ver ainda mais os embates entre o bando de Serena e o bando de Taturano.
“As Cangaceiras Guerreiras do Sertão” é pura arte, ou seja, teatro com todos os elementos que permitem a catarse — um texto perfeito para a proposta. A direção obtém o resultado esperado: a interpretação consistente e equilibrada, cada papel, cada personagem apresentando-se como um pedaço do mosaico que, no conjunto, vai compor uma figura em que não se percebem as emendas. A peça é para ser aplaudida de pé, ininterruptamente!
Serviço:
Teatro Riachuelo (Rua do Passeio, 38/40)
Sexta e sábado, às 20h
Domingo, às 19h