Pessoas físicas poderiam se valer de alguns recursos usados por empresas.
Por exemplo, ter uma lista de respostas prontas para as perguntas mais comuns (também conhecidas, em português, pela sigla F.A.Q., Frequently Asked Questions).
Isso nos pouparia — principalmente nas redes sociais — de repetir exaustivamente as mesmas coisas.
No caso do Facebook, quem lê uma postagem dificilmente se dá ao trabalho de passar os olhos pelos comentários. E as perguntas se repetem, e se repetem, e se repetem — mesmo a resposta já estando lá.
Como costumo reclamar (estou virando um velho reclamão…) do barulho, da insônia etc, pensei em criar um “banco de respostas”.
1 — Por que você não instala janelas duplas, antirruído?
Quem dera o barulho entrasse só pelas janelas! Ele vem também pelas portas, pelas paredes (o falatório e as DRs dos apartamentos vizinhos), pelo teto (o arrastar de móveis do apartamento de cima), pelo piso (as festas do apartamento de baixo).
Teria que ter portas duplas, janelas duplas, paredes duplas, sobrelaje, rebaixo de teto. Ou seja, teria que construir um bunker. Reduziria a área útil, teria um degrau na entrada e um pé direito uns 40 cm mais baixo.
Convenhamos: não vale a pena.
2 — Por que você não se muda?
Porque ainda não encontrei lugar que me atenda — e não quero trocar dez por uma dezena, cem por um cento ou 25% por ¼.
Sabendo de um apartamento, casa, chalé, chatô, cobertura ou bangalô com varanda (ou jardim), vista para o nascente e sem vizinhos (ou apenas com vizinhos civilizados), mande mensagem inbox, por favor.
3 — Por que você não vai a um médico para tratar a insônia?
Já fui. Continuo indo. Pelo andar da carruagem, ainda irei muitas vezes.
Insônia não é como amídala, que se resolve de uma vez por todas.
Meu maior medo, na infância, estava longe de ser de bicho papão ou de comunista (ainda não sei bem a diferença), mas da noite em claro. A casa inteira adormecida e eu, no escuro, de olho arregalado. Continua assim, até hoje.
Mas não quero perder o sono preocupado com isso.
4 — Quem tirou a foto?
Desde que resolvi revisitar meu álbum de fotografias, esta é a pergunta número 1.
Não sei. Não lembro. Nem imagino.
As mais antigas provavelmente foram feitas pelo meu padrinho Valdete, retratista em Viçosa. Volta e meia ele aprecia com a máquina fotográfica (as cams ainda se chamavam “máquinas fotográficas”) a tiracolo e nos retratava para a posteridade – ou pelo menos para o álbum que minha mãe mantinha – de papel cartão, com entrefolhas de papel manteiga – tudo encaixadinho em cantoneiras, em ordem cronológica.
As das viagens com amigos, por algum dos amigos. Qual deles? Sei lá.
As das que fiz sozinho (larga maioria), por algum turista a quem pedi “Could you please take a pic of me?”.
Nunca me ocorreu perguntar-lhe o nome (“É para informar, daqui a 30 anos, no feicebuque”, “Fei-ce-b-uque. Uma rede social, um negócio que ainda vai ser inventado, onde a gente posta fotos, e as pessoas vão querer saber quem é você”, “Para quê? Moço, não faço ideia. Deve ter a ver com direitos autorais, vá saber”, “Não, moço, não sou maluco não, volta aqui, tira a foto, não precisa dizer o nome, eu invento um… Droga, fiquei sem a foto.”).
Reza a lenda que foi Benjamin Disraeli, primeiro ministro britânico, quem aconselhou a Rainha Vitória: ‘Never complain, never explain.’
Vou seguir a segunda parte da sugestão dele e esquecer as F.A.Q.
Quanto a não reclamar, vai ser difícil. Pelo menos enquanto durarem esta insônia, essa barulheira infernal e a arqueologia dos meus eus. Eu tinha cabelo, era feliz e não sabia. Droga!