Ontem saí com alunos do Ensino Médio de um colégio da Barra, para informar e mostrar a importância dos ecossistemas, bem como os produtos, frutos da impunidade que os criminosos ambientais gozam numa cultura voltada para o uso predatório da natureza. Por conta da maré baixíssima, nem mesmo as embarcações adaptadas para as condições de assoreamento severo conseguiram trafegar sem que os motores de popa, ao contrário de empurrar água, tivessem de empurrar lama!
A lagoa da Tijuca, principal via de escoamento das águas de toda a bacia hidrográfica local, estava reduzida a um canal pútrido cheio de peixes mortos, cercado por ilhas de lama e lixo. O odor de morte era generalizado, onde se misturava a putrefação dos peixes mortos com a eliminação de metano e gás sulfídrico. Sem dúvida, para um biólogo, era a imagem perfeita do inferno ambiental. Inúmeros sofás, poltronas e tudo mais que se possa imaginar completavam o cenário de juízo final – pelo menos, para as formas de vida sentenciadas a morrer por asfixia e intoxicação.
Culpados?! Esses dormem tranquilos sob o manto da impunidade. Desconheço, pode até existir, mas eu desconheço, qualquer grande criminoso ambiental (pessoa física) preso ou que tenha tido de colocar a mão no bolso por conta de sua delinquência.
Numa cultura historicamente voltada para o “usar até acabar”, em que o dinheiro justifica praticamente tudo, a destruição de ecossistemas protegidos integralmente por calhamaços de leis parece ser amplamente aceita pela sociedade que assiste a tudo omissa de suas responsabilidades, além daquelas associadas ao pagamento dos impostos.
Duas fotos resumem bem toda essa triste situação.
A primeira, onde mesmo com esgoto e peixes mortos, não foi condição suficiente para desanimar a entrada no mar de dois corajosos surfistas. A segunda, onde uma modelo tira suas fotos no meio de peixes mortos e águas poluídas.
É o que eu chamo de resiliência patológica, isto é, aceitar o inaceitável e, dessa forma, produzir para os delinquentes ambientais, certos da impunidade, um ambiente perfeito para transformar o paraíso num inferno. Eu escolhi meu lado nessa guerra; cabe saber qual lado. Cada um que estiver lendo essas linhas irá optar?