Pensar fora da caixa é um hábito que me acompanha desde sempre. Andar por diferentes caminhos, ver coisas que outras pessoas não viam em determinadas situações e criar alternativas para solucionar questões diversas faziam e fazem parte da minha personalidade. Essa característica foi fundamental na minha trajetória e fez toda a diferença quando decidi que meu destino era ser empreendedor. Eu não queria procurar emprego, e sim gerar empregos.
Empreender no Brasil é um ato de coragem, de muita coragem. Aqui, não somos estimulados e, muito menos, educados para ser empreendedores. Na escola, a grande maioria dos jovens se prepara para o vestibular. Os pais sonham em ver a garotada crescer, chegar à faculdade, conseguir o diploma e entrar no mercado de trabalho como assalariado; de preferência, concursado, para garantir logo a estabilidade. Nada contra. Mas será que esse é o único caminho para alguém ser bem-sucedido na vida?
Para haver emprego, é preciso haver empresa e, para haver empresa, é preciso haver empresário. Infelizmente, nosso país não se preocupa com a formação empreendedora. Quem decide, como eu, seguir nessa direção, faz isso por sua conta e risco, aprendendo, na escola da vida, a sobreviver numa selva repleta de armadilhas e outros perigos.
Quem me vê hoje, administrando quatro restaurantes de sucesso no Rio, pode até achar que sempre surfei as melhores ondas, e que tudo em minha vida foi um mar de rosas. Pois saibam que já tive de fechar empresas com menos de cinco anos de funcionamento. No Brasil, quem nunca? Mas segui em frente porque, graças a Deus e a todos os anjos que me protegem, nasci com a vocação de empreender. Não saberia fazer outra coisa na vida. E isso me ajudou a saber cair sem me machucar, coisa que também aprendi com meus mestres de jiu-jítsu, esporte que tanto amo e pratico.
Atualmente, com 26 anos de experiência no ramo de gastronomia e eventos, tenho me sentido, cada vez mais, na obrigação de dividir com outras pessoas minha história de vida. Um dos fatores que contribuíram para isso foi a situação gerada pela pandemia. Naquele período, quem trabalhava com bares e restaurantes foi vítima de uma política cruel e irresponsável, que viu, em nosso setor, uma ameaça que, na verdade, vinha de outros lados. Muitas empresas quebraram, funcionários foram para o olho da rua, e nada disso fez a pandemia arrefecer. Aquilo mexeu comigo e me fez, pela primeira vez, subir num carro de som de microfone na mão e falar para mais de mil pessoas sobre a nossa indignação. Ali, quis mostrar que o caminho a seguir era outro. Desde então, não parei mais.
Como diz o dito popular, “cutucaram a onça com vara curta”. Minha manifestação fez com que muitas pessoas passassem a me procurar para demonstrar apoio e identificação com aquilo que eu dizia. Passei a me sentir responsável por aquela gente. E a gota d’água para que o copo transbordasse foi quando, depois de abrir um novo restaurante em plena pandemia (sim, senhoras e senhores, ao invés de fechar, abri mais um restaurante durante a crise), fui obrigado a demitir 28 colaboradores. Aquilo doeu na minha alma.
Como já disse, com todas as experiências já vividas, sei cair sem me machucar. No dia seguinte, depois das demissões, abri uma agência de empregos, cujos detalhes podem ser conhecidos no livro “Ordem na Casa”, que lancei este mês, contando toda essa história com mais detalhes. Minha agência virtual conseguiu, no primeiro mês de funcionamento, recolocar cerca de 100 pessoas no mercado, ou seja, quase quatro vezes mais gente do que eu tinha sido obrigado a demitir.
Não quero me vangloriar. O que relato aqui é apenas para mostrar que, com coragem, determinação, experiência, competência e, principalmente, boa intenção, é totalmente possível fazer as coisas acontecerem de outra forma, mesmo diante da pior crise. E quando você demonstra para as pessoas que há, sim, um caminho reto a seguir, elas vêm junto.
Para encurtar essa conversa, comemoro também o lançamento do Instituto João Diniz, para a capacitação de profissionais dos setores de gastronomia e eventos, para que eles entrem no mercado de trabalho com uma profissão definida. Estamos só no começo, mas já formamos as primeiras turmas; os resultados são bastante animadores. Ao oferecer a alguém a oportunidade de aprender um ofício, você ajuda não apenas aquela pessoa, mas também toda a sociedade. Saiba que, mesmo que você esteja empregado, o desemprego dos outros também te afeta. Esse problema é de todos nós.
Mesmo diante de tantas dificuldades pelas quais passamos atualmente, eu confesso: estou otimista. Acredito no ser humano, na sua capacidade de se reinventar e de seguir em frente, mesmo depois de tropeçar nos percalços do caminho. E, se houver alguém para auxiliar nessa jornada, melhor ainda. Acredito também no Rio, essa cidade que tem tudo e mais um pouco para ser o grande farol para guiar e iluminar o Brasil. É possível. Acredite. Só depende de nós. Vamos juntos, mudar o rumo dessa história.
João Diniz é empresário e escritor, administrador do Bahl Restaurante e das redes Blá Blá e Ginkeria B; autor do livro “Ordem na casa — A força do Rio através dos setores de Gastronomia, Eventos e Turismo”.