Depois de quase 20 anos de Zuka, acompanhei o seu final, abatido pelos efeitos da pandemia. Foi um estado de estripação. Afinal, foram muitos anos, e aprendi a ser chef em uma estrutura grande e bem organizada. Mas eu já vivia um luto há algum tempo, e almejava novos rumos.
Então, bem rápido, literalmente em 24 horas, resolvi mudar a minha vida: com acompanhamento, fiz jejum intermitente radical total, 34 quilos a menos — passei a ver o mundo de outra forma.
Dispenso o que não me agrega mais; o que me agrega, eu coloco no coração e cuido. Cuido de mim também. Sempre fui magra, só que, depois da gravidez, engordei, emagreci e engordei outra vez.
Não é que recentemente eu estava atravessando a rua, um motorista avançou o sinal e gritou: “Sai daí, sua gorda!” Tempos depois, já magra, atravessando a rua, outro motorista avança o sinal e grita: “Sai daí, sua velha!” Gente, vamos ser gente, vamos ser gente que vive sem machucar e amar sem cobrar. Ser gorda, magra, nova, velha, para o que é que servem essas “opiniões” que nada constroem?
Vamos gerar coisas boas, trabalho, cultura, amor. Livrei-me de relações banais e deixei de me machucar. Não frequento grupos, não dou ouvidos a intrigas. Não curto quem trabalha sem paixão, sem energia. Afinal, nada cai do céu. Por isso, as bandeiras levantadas com o amor que o bem gera devem poder tremular sob o céu do nosso país. Se os 10 Mandamentos e se os sete pecados capitais estão aí para muitos, não há por que achar que tenham que estar aí para todo mundo. Portanto, façam as escolhas certeiras. A população tem que acordar. O que interessa, a cor, o gênero, a sexualidade e o que define o outro? Tudo isso é natural, mas, por enquanto, temos que repetir que deveria ser natural.
Tenho gênio forte. Sou democrática, mas autocrática, senão, não seria chef. Com essa mudança, saí da comodidade de ser funcionária para virar empresária, como o peso da tomada de decisões, de saber onde e quanto investir, mas aprendendo o novo. Abri a LS Cozinha, que me sustentou por toda a pandemia e em sua pior fase; porém, como chef, era frustrante ter um delivery e uma única mesa.
Estava escrito nas estrelas: eu e Erika Rangel estávamos com o mesmo gás, com a mesma vontade e na mesma sintonia. Nasce o Malkah. Duas sonhadoras, sem sócio capitalista, se juntaram para contar novas histórias cheias de sabores, com comidas deliciosas entre boas companhias, e criando lembranças palpáveis. O menos é mais, e o Malkah vai deixar um gosto na boca que fará com que todos voltem para a nossa casa.
Esperamos vocês na Rua Visconde de Carandaí, no. 2, Jardim Botânico, em março. Entre nós, temos um mote: Alegria, Fortuna e Vigor! Malkah, vindo com tudo, cheio de amor, humor, comida da boa e bebidinhas “delícia”, até porque ninguém é de ferro.
Vem, meu bem!
Ludmilla Soeiro é chef autodidata, passou metade da sua vida no Zuka, no Leblon, deixando muita gente de luto com seu fechamento. Ludmilla vai inaugurar o Malkah (rainha, em hebraíco), novo restaurante, em sociedade com Erika Rangel, em março, no Jardim Botânico.