Faz algum tempo que não tenho a menor dúvida de que representamos a maior ameaça para a biodiversidade do planeta Terra.
Até o momento, apesar de estarmos bem no início das pesquisas em busca de formas de vida extraterrenas, oficialmente, não temos ainda a tão esperada e particularmente óbvia conclusão de que nunca estivemos sós.
Enquanto buscamos indícios, contatos de formas de vidas além de nossa barreira planetária, continuamos, de forma insana, falando muito, prometendo muito e fazendo muito pouco em termos práticos quando o assunto é ambiente. Espelho disso são os números de concentrações cada vez maiores de carbono na atmosfera, bem como da velocidade da extinção de espécies, que não arrefece ano após ano. Os dados estão aí, gerados por universidades, ecólogos, climatologistas e demais pesquisadores. É só questão de pesquisar.
Até a monarca inglesa, recentemente, já chegou a essa conclusão, isto é, fala-se muito e pratica-se pouco.
Enquanto alguns trabalham com os grandes números globais, do quanto poluímos ano após ano, testando os limites homeostáticos planetários e de quantas espécies somem numa velocidade acelerada, muito acima da normal, eu, por aqui, trabalho com o que acontece principalmente na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, o verdadeiro “paraíso da beleza e do caos”.
A guerra verde está deflagrada em territórios de todos os tipos e com todos os tipos de proprietários. Até o espaço aéreo tem dono, portanto, cuidado ao sobrevoar: a máquina fotográfica facilmente é confundida com algum tipo de arma pelos donos do pedaço.
Voando por essa região desde 1997, já vi de tudo em conceito de degradação de terra, água e ar, onde nada, absolutamente nada escapa do aspecto cultural nacional do “usar até acabar”.
Informar, reclamar, denunciar, explicar, dependendo do delinquente ambiental envolvido, podem ser risco de vida ou de complicações pessoais típicas de um lugar que ainda pensa e age como uma colônia de exploração do século XXI. O famoso “você sabe com quem está falando?” continua valendo das mais variadas formas possíveis, com consequências nefastas bem diversas para os “verdes abusados”. Afinal, que mal há em degradar se render algum?
Além do aspecto cultural predatório e da baixa qualidade educacional oferecida para as “massas” — e sem massa crítica não há mudança estrutural que aconteça —, há a certeza cristalina da impunidade por parte daqueles que operam, na prática, a degradação. São pessoas físicas bem-apessoadas, muito bem assessoradas, sem medo de faturar à custa da degradação nem de continuar livres, leves e soltas. Afinal, por aqui, é legítimo degradar, praticamente um direito garantido na prática do dia a dia e de aceitação social, desde que gere dividendos e promoção pessoal financeira.
Mas por que tanta amargura? Quanta desesperança? Alguns poderão se perguntar. Nada disso! Não há amargura tampouco desesperança, mas apenas obstinação em proteger e recuperar na prática, longe do jogo de luzes e de muito marketing por um mundo melhor.
Precisamos muito mais do que a nossa consciência tranquila por plantar uma muda ou limpar algum trecho degradado de rio, praia, lagoa ou mangue.
Precisamos sair da nossa zona de conforto suicida, atuando a cada eleição, a cada singela compra no supermercado, por meio de nosso poder de eleitor e consumidor. Afinal, o que está em jogo são poder e dinheiro, e ambos saem de nossa suposta democrática vontade.
Não nos iludamos em relação ao nosso papel fundamental em toda essa tragédia sociombiental. Somos por ação e principalmente omissão, as engrenagens que possibilitam a extinção em massa de milhares de organismos, muitos dos quais nem tivermos o privilégio de conhecer, por colocarmos incompetentes e até delinquentes no poder, conduzindo-nos em direção ao abismo.
Há expectativa de poder virar esse jogo do ponto de vista técnico, ou, ao menos, empatá-lo, preparando a civilização como a conhecemos, produto da estabilidade climática que insistimos em sabotar, para as consequências dos últimos duzentos anos de tudo ou nada planetário em termos ambientais. Resta saber se haverá vontade de mudar de fato nossos hábitos e opções!
A vida continuará dando seu jeito para prosseguir em sua saga — disso eu não tenho a menor dúvida. A questão central para a espécie Homo sapiens é como ficará a civilização que construímos diante das respostas que o Planeta terá de dar inevitavelmente em termos de novo equilíbrio climático.
Eu, no meu quintal, trecho situado entre as baías de Guanabara e Ilha Grande, continuarei monitorando, protegendo e recuperando a zona costeira da forma que eu puder e colhendo as consequências positivas e negativas dessa missão.
Apesar de todo o meu esforço pessoal e profissional, sinto que estamos chegando a um ponto de inflexão do não retorno.
Mas isso fica para futuras linhas nessa GREEN WAR.