Ele se foi faz quase um ano, e ainda é difícil acreditar. Sua vida e trajetória tão marcantes e resolutivas na vida de tantos pacientes, amigos, colegas, familiares e na minha vida, não nos deixam esquecer dele um só dia. Não queremos esquecer Ricardo Cruz. Ele recebeu diversas homenagens ao longo deste ano: um hospital com o seu nome, um centro de reabilitação para anomalias congênitas, inúmeros artigos e muitas mensagens no celular, de pacientes e colegas agradecendo e se despedindo.
Ele nos deixou seu maior legado, que foi o Humanidades na Saúde, que continua vivo graças a seus amigos e assessores secretos, Arnaldo Goldenberg, Lucila Faerchtein, Daniel Tabak, Roberto Cooper, Sérgio Zaidhaft, Sônia Bromberger e Margareth Dalcolmo, além do Hospital Samaritano, que nos apoia! Não foi um ano fácil para a nossa família e para muitas outras que perderam seus queridos por causa da covid. Porém descobrimos que podemos nos reinventar com a ajuda de Deus, da família e dos amigos que dividiram o nosso choro e a nossa dor. Continuar a criar meus filhos sem o Ricardo me fez seguir em frente.
A minha dor não era nada se comparada à dor de vê-los sem o pai. Mas, eles também me encheram de orgulho pela força e resiliência que enfrentaram este ano. A morte nunca foi um tabu em nossa casa – Ricardo compartilhava seus casos difíceis e muitas vezes demonstrava para os meninos o quanto sofria quando alguém não sobrevivia ao tratamento. Eu também tinha uma história de perdas que sempre fez parte de nossas conversas e memórias. Mas é claro que, mesmo cientes de que todos estamos destinados a morrer um dia, não desejamos nunca perder a quem amamos, ainda mais de forma tão abrupta e sofrida.
Algumas pessoas sabem que eu e Ricardo trocamos mensagens pelo WhatsApp antes que ele fosse entubado; nelas, ele manifestou o seu desejo em relação ao consultório, aos meus filhos e a mim. Também me pediu para evitar missas e homenagens, o que hoje acredito ter sido mais um gesto de carinho e cuidado com a nossa dor, pois sabia o quanto essas homenagens nos causariam mais sofrimento naquele momento. Descobrimos que é impossível não homenagear uma pessoa grandiosa como o Ricardo.
Nesta terça (07/12), às 18h30, na igreja Nossa Senhora da Paz, o padre Jorjão vai estar à frente dessa homenagem. Vamos orar e agradecer por tudo o que ele representou em nossas vidas. Deixo aqui um poema que reflete a nossa oração e o desejo do Ricardo para todos nós.
Ele se Foi (David Harkins):
1. Você pode derramar lágrimas porque ele se foi ou você pode sorrir porque ele viveu.
2. Você pode fechar os olhos e orar para que ele volte ou você abrir os olhos e ver tudo o que ele deixou.
3. Seu coração pode estar vazio porque você não pode vê-lo ou você pode estar cheio de amor que compartilhou.
4. Você pode virar as costas amanhã e viver ontem ou você pode ser feliz amanhã por causa de ontem.
5. Você pode se lembrar dele e apenas que ele se foi ou você pode valorizar a memória dele e deixá-lo viver.
6. Você pode chorar e fechar sua mente, ficar vazio e virar as costas ou você pode fazer o que ele gostaria: sorrir, abrir os olhos, amar e seguir em frente.
Denise Loreto da Cruz, jornalista e ex-comerciante, é viúva do cirurgião maxilo-facial Ricardo Lopes da Cruz, morto pela Covid-19, em dezembro de 2020.