Este ano o Natal pode ter mais cara de Natal do que o Natal quase que exclusivamente comercial, como conhecemos. Deve ser mais alegre que outros anos porque, depois do coronavírus, a gente tem a impressão de que, de uma forma geral, existe mais apreço pela vida, pelos encontros, pelos afetos! Mais ainda, quem passou pela experiência da covid e sobreviveu. E não tô falando que vai ser um Natal mais amoroso pela obrigatoriedade de ser feliz só por ser Natal, de jeito nenhum!
Muita gente nem tem ideia de que a data comemora o nascimento de Jesus Cristo. O encontro da família pode ser mais “doce”, digamos assim, que em 2020. Vamos relativizar mais a cunhada-mala, o primo deslumbrado, o tio negacionista, a sogra insuportável — sim, o normal é que existam em qualquer família; na sua, não sei … No mais, de nós se espera, além do amor pelas rabanadas (rs), um olhar ao próximo, além do implacável eu.
Aqui, alguns personagens da coluna respondem à pergunta: “Que Natal é este?”
Antonia Galdeano, psicóloga: “Este Natal não deve ser momento de pensar no que perdemos ou em quem perdemos; tampouco é realista celebrar cegamente uma “alegria natalina”. Não há alívio ainda neste momento; muito menos, certezas. Mas há esperança, pois há vontade de viver. Este é um Natal do que é verdadeiro e que fica: o afeto. As pessoas continuam sentindo e precisam dividir e viver isso. Sugiro convidar ou convidar-se para uma ceia onde seu coração estiver, onde você se sinta bem e sem cobranças. Sente-se bem com sua irmã? Passe perto dela. Sente-se bem com um amigo? Convide-o. E isso se estende para todas as relações que você fez ou manteve seu coração pulsando este ano. Esqueça cobranças do que devia ser. Faça seu Natal onde tiver seu afeto agora. Viva esse afeto. Isso é a felicidade possível no Natal.”
Danuza Leão, colunista: “Quem me conhece bem sabe que eu não estou nem aí pro Natal, o que contribui para o que estou passando agora. As pessoas ligam: ‘Como eu sei que você odeia Natal, eu não vou dizer Feliz Natal’. Aí a conversa acaba, ficando muito mais comprida do que eu se me dissessem ‘Feliz Natal’ e eu respondesse ‘Feliz Natal’. Ano que vem, vou dizer que amo Natal, só pra resumir o diálogo. Há uma pressão grande nesta data, religião misturada com comércio, mas muito mais comércio.”
Eduardo Braule-Wanderley, empresário: “Percebi que nossa cidade está mais iluminada. Isso pode significar celebração – tem um simbolismo; essa iluminação serviu pra nos trazer a ideia de que as coisas estão voltando. Vai ser um Natal também de reunião de todo mundo que estava afastado, porque Natal pelo Zoom não é Natal. Este ano, estamos juntos novamente. Tenho um sentimento positivo: o Natal celebra o nascimento de Cristo, e meu desejo é que signifique também um renascimento não só do Natal, mas também da vida, da família, dos encontros.”
Hélio de la Peña, humorista: “Depois de dois anos sem festas, as famílias finalmente vão voltar a se reunir pra brigar na noite do dia 24 de dezembro. Mas algumas coisas estão bem diferentes: desta vez, Papai Noel está pirando com as cartinhas. Em vez de bola, carrinho ou boneca, as crianças estão pedindo mesmo é vacina!”
Jorge Farjalla, diretor de teatro: “Acho Natal uma coisa cafonérrima, mas, este ano, vai ser diferente. Vou passar a data com a minha mãe, que é o grande tesouro da minha vida. Não a vejo há quase dois anos, desde o início da pandemia (ela mora em Catalão, Goiás). Este Natal tem um significado de mãe, de útero, de acolhimento e mudança. A filha de uma comadre também nasceu há sete meses, com várias comorbidades no coração, e isso me fez voltar os olhos para Deus… Eu estava arrasado com a perda de Paulo Gustavo (1978-2021), na mesma época do nascimento da bebê. Foi uma prova de vida. Vai ser o Natal do reencontro com Deus.”
Lucinha Araújo, filantropa: “O Natal terminou pra mim em 1990, quando meu filho Cazuza morreu; antes, eram festas enormes. Para ele, não ir pra farra, ficava liberado convidar quem bem quisesse pra nossa casa, todos muito bem-vindos. Vinha gente de todas as espécies. Gosto muito, acho uma festa bonita, mas nunca mais. Este ano, vou pra Angra.”
Maricy Trussardi e Glória Severiano Ribeiro (mãe e filha): “O maravilhoso é que a gente possa se renovar na fé, no amor ao próximo e fazer do Natal um dia inesquecível. Este ano, falta meu marido, falta muito grande, mas, acima disso, existe alguém chamado Jesus, como vi o Roberto Carlos dizer, e nessa alegria a gente volta a viver: o ruim já passou. Que a alegria divina se esparrame pra todo lugar”. Glória completa: “Mais do que nunca, temos de viver este espírito do Natal, que celebra o nascimento de Cristo. Os últimos acontecimentos neste mundo me fizeram repensar muito a vida, com muito aprendizado por tudo que passamos. Desejo que estejamos em comunhão. Estou voltada para o céu, a gente não pode desanimar, a gente tem que seguir aquela luz que os Reis Magos seguiram – só ela vai nos mostrar o verdadeiro caminho. Que este Natal também signifique realmente o renascimento.”
Rodrigo Pitta, diretor e roteirista: “Este é o Natal da volta do contato, do carinho, do fim da solidão. É o Natal da virada do mundo; mas, no fundo, que Natal é este?! Ou que país é este?! Brasileiro percebeu que aqui não neva, que aqui voltou a fome, e que Papai Noel não é o Presidente da República infelizmente, que o maior presente que poderemos receber é a saúde. Como diria a nossa musa Rita Lee: ‘Me Cansei de lero-lero; me dá licença mas eu vou sair do sério. Quero mais saúde, me cansei de escutar opiniões de como ter um mundo melhor; mas, enquanto estou vivo, cheio de graça , talvez ainda faça um monte de gente feliz.”