Estava em Aracaju, e caí na esparrela de fazer uma excursão a Xingó, um cânion por onde passa o Rio São Francisco.
É um lugar lindo, do qual nunca tinha ouvido falar.
Podia ter alugado um carro e ido sozinho, mas achei mais prático entrar numa agência de viagens e… bem, imaginem o pior, dividam por 0,002 e elevem ao cubo.
A agência não tinha van própria, clientes de várias agências foram amontoados numa van onde mal caberia a metade daquelas pessoas, o motorista e a guia nunca tinham feito aquele roteiro, e eu, com pernas mais compridas, acabei tendo que viajar no banco da frente, imprensado entre o motorista e uma passageira, sertão adentro.
São mais ou menos quatro horas de viagem entre Aracaju e Xingó. E só havia um CD a bordo. De uma cantora de quem eu também nunca tinha ouvido falar.
O CD tocou em loop, quatro horas na ida e quatro na volta, no mesmo dia.
Ao fim da viagem, eu conhecia todas as músicas, de cor e salteado. Sabia a sequência delas no CD. Dominava cada sutileza (ou a sua falta) do arranjo.
E tinha me apaixonado pela cantora, que eu não aguentava mais ouvir, depois de ter que aturá-la por oito horas, que pareceram oitocentas.
Era a Marília Mendonça.
De volta ao Rio, botava “Infiel” para tocar e era como se estivesse de novo no sertão sergipano, apertado na van, mergulhando nas águas do São Francisco, imerso em outro Brasil.
Marília Mendonça era outro Brasil, não o meu.
Hoje eu fiquei triste. De verdade.
Um pedacinho daquele Brasil morreu.