Desde muito cedo, eu soube que queria ser artista plástica, sempre desenhando, cortando e colando tudo o que tinha ao meu alcance, na província de Buenos Aires, Argentina, onde nasci. Estudei Belas Artes e achei meu mundo na gravura em metal! Há quase 23 anos, migramos para o Brasil, economia em expansão e sétima potência. Era o país do futuro! Foi aí que a maternidade me trouxe outro mundo: o mundo das crianças especiais.
Meu primeiro filho, Nicolás, nasceu com uma patologia neurológica severa, com problema de locomoção. Longe da minha família e dos meus amigos, não foi nada fácil. Mas sempre fui de fazer. Reclamar, só por 5 minutos; depois, tentar buscar saídas alternativas, novos caminhos para a minha realidade! A resiliência se trabalha, cultiva-se e se conquista!
À medida que você se aprofunda nesses caminhos, percebe, mais uma vez, a grande desigualdade que existe em nossos países: desigualdade na educação, acesso à saúde, informação, alimentação. E, claro, tipos de tratamentos para nossos filhos — a grande dificuldade do básico, como a compra de uma cadeira de rodas por exemplo! Incomodada com essa realidade, há 17 anos nascia a ONG One by One no quintal da minha casa, na Barra, onde continua até hoje. Desde então, nossa missão é dar mobilidade através da compra de cadeiras de rodas feitas sob medida e inclusão social, através da educação.
Você não pode falar sobre crianças especiais sem olhar atentamente para suas mães. A problemática é complexa, mas, por meio do projeto de empreendedorismo — com curso de culinária, estimulação e arte, alfabetização e educação com a inclusão digital, hoje temos aproximadamente 60 mães começando seus pequenos negócios e gerando renda para si mesmas e para seus filhos!
Sinto uma grande simbiose entre minha obra artística e o trabalho social; um não existiria sem o outro. Minha obra reflete, de forma abstrata, cada problemática, cada angústia e cada conquista nossa como grupo! Meu trabalho se retroalimenta das energias e questões sociais. Quando eu imprimo, deixo uma marca, conto uma história, da mesma forma como as mães chegam com suas suas vivências, deixando claro a realidade delas e a minha.
Deixar uma marca no papel ou no cobre, rasgar, entrelaçar, colar e transformar as realidades em arte são atividades que me movem, que me impulsionam a viver!
Muitos cariocas me ajudam, mas, claro, gostaria de ampliar esse círculo de doadores, pra não esgotar aqueles que já tanto contribuem. Ajudam com tudo: computadores antigos, fraldas, leite, cestas básicas, roupas, brinquedos, o que for. Isso pode mudar a vida de alguém.
Apesar de ter muitas pessoas físicas contribuindo, o número de carentes cresceu exponencialmente durante a pandemia. Assim, estou ressignificando, transformando, da mesma forma que as mães se despem de antigas formas para recomeçar novas histórias.
Teresa Stengel é artista plástica, mãe de três filhos e fundadora da Ong One by One, com a missão da mobilidade através da compra de cadeiras de rodas (já doou 1.600) e, ainda, com projetos de educação. Hoje atende 1.400 famílias. O site é (www.onebyone.org.br).