“Aglomerem-se!”, pediu Amir Haddad ao fim da peça “Ninguém dirá que é tarde demais”, no Teatro Riachuelo, nesse fim de semana. Não se tratava de uma aglomeração qualquer, irresponsável, mas para os cariocas lotarem os teatros.
Essa estreia é a volta de Arlete Salles aos palcos, depois de seis anos, e também as comemorações de 65 anos de carreira da atriz, numa, digamos, reunião familiar. O texto é do seu neto, Pedro Medina, com quem também contracena; o filho de Arlete, Alexandre Barbalho, e o amigo Edwin Luisi (há dois anos sem fazer teatro) também estão na peça. A direção é de Haddad, outro grande parceiro de Arlete há 35 anos. “Estou navegando em sentimentos diversos e emoções fortes. Estamos aqui corajosamente, ainda na pandemia, ousadamente indo juntos para o palco. Não apresentaria meu neto como dramaturgo se não tivesse confiança no talento dele”, diz Arlete. “Gosto de fazer um teatro esclarecedor, que ilumina as pessoas. E falo para todos: ninguém dirá que é tarde demais para coisa alguma. Sempre é o momento de colocar em prática o desejo”, completa Haddad, 84 anos, em plena atividade.
O espetáculo tem tudo a ver com o momento: conta a história de solidão de dois septuagenários (Arlete e Luisi) que hospedam o neto (Medina) durante a pandemia. Também tem outro parente na produção: Lúcio Mauro Filho — enteado de Arlete, irmão de Alexandre e tio de Pedro —, que assina a direção musical com Máximo Cutrim. “Fiquei feliz demais com meu sobrinho me dando emprego e me trazendo para este lugar quente e amoroso, que é trabalhar em família. Pedro inseriu a pandemia na dramaturgia, como pano de fundo para o momento em que estamos vivendo. Foi um gol”, explica Lúcio.