Essa casa, na Rua Visconde de Pirajá, n° 487, em Ipanema, foi palco das reuniões, aos domingos, mais disputadas do Rio nas décadas de 1940 e 1950. Eram as domingueiras promovidas pelo escritor, crítico de arte e professor Aníbal Machado (1894-1964), dono do imóvel desde 1937.
A casa, com dois andares e janelas verdes, foi, por anos, um ponto de encontro de artistas e intelectuais da época: Carlos Drummond de Andrade, Cândido Portinari, João Cabral de Melo Neto, Di Cavalcanti, Tônia Carrero, Cecília Meireles, Rubem Braga, Oscar Niemeyer, Fernando Sabino, Pablo Neruda, Ivo Pitanguy, dentre tantos outros. As noites de todos os domingos começavam com caipirinhas, partidas de totó, passos de foxtrote na sala com pinturas de Guignard e terminavam de madrugada, em discussões sobre as mais variadas formas de arte. Quando o assunto era mais íntimo, o dono da casa conversava em seu escritório, projetado por Oscar Niemeyer, nos fundos do terreno que dava para a Rua Prudente de Morais.
Aníbal foi casado duas vezes e teve seis filhas, todas com o nome de Maria. Vinícius de Moraes (concunhado de uma das filhas) escreveu sobre a família Machado: “No ninho de Selma e Aníbal Machado, havia seis lindas Machadinhas. Estavam todas sempre em casa. Todas com o nome Maria. Se eu não fosse um homem casado não sei com qual eu casaria.”
A mais conhecida das filhas foi Maria Clara Machado (1921-2001), escritora com 12 livros lançados, 29 peças para crianças e 5 espetáculos para adultos. Foi nessa casa que, em 1951, Maria Clara criou a companhia teatral “O Tablado” e escreveu as peças: “A bruxinha que era boa”, “Pluft, o fantasminha” e “O boi e o burro no caminho de Belém”. A próxima foto mostra Maria Clara voltando ao número 487, num Globo Repórter de 1984, feito por Pedro Bial sobre sua vida.
Aníbal nunca quis vender a casa por achar que, se morasse num apartamento, perderia a liberdade de receber os frequentadores das famosas domingueiras. Sete anos após a sua morte, em 1971, a casa não resistiu à especulação imobiliária que repaginou grande parte de Ipanema. No mesmo terreno, foi construído o Edifício Aníbal Machado com 15 andares, galeria de lojas e apartamentos de 130 m2.
Toda essa história foi contada no ótimo livro “Visconde de Pirajá, 487— As domingueiras de Aníbal Machado”, organizado, em 2011, por Celina Whately.