Depois de longa espera, foi um alívio saber que a parcela mais frágil da população, acima dos 60 anos, estava tendo prioridade neste momento desolador que vivemos, em mais de um ano de pandemia.
Tomei a primeira dose da Coronavac no dia 6 de abril de 2021: finalmente chegou o meu dia! Estava ansiosa, como qualquer brasileiro. Fui ao posto e, em alguns poucos minutos, estava parcialmente imunizada, com direito a registro fotográfico e postagem nas redes sociais, dando viva ao SUS.
O ano de 2020 foi muito difícil pra todo mundo. Limitada no direito de ir e vir, mesmo com todos os cuidados, contaminei-me em julho, junto com marido e enteado. Graças a Deus, para nós, foi uma gripezinha, mas, ao redor, a crise estava instalada. Cunhado médico intubado, outro internado, vários amigos doentes, outros sem a mesma sorte que eu morreram.
Ficar isolada, para alguém que trabalha com viagens e pessoas, que ama estar em grupo, está sendo uma desolação. Nesse período pirei, voltei ao normal, ou quase, pirei de novo, voltei. Toquei piano, fiz ioga, meditei. Cuidei de mim. Acho que até melhorei como ser humano.
Em setembro, o cenário parecia mais amistoso. O segmento dos pequenos meios de hospedagem, para o qual trabalho, teve uma alta expressiva. Ninguém mais aguentava ficar em casa, e os que tiveram oportunidade não hesitaram em sair. Tudo estava caminhando para o desejado fim, mas veio a segunda onda, mais avassaladora do que a primeira e, junto com ela, a esperança da vacina.
Ordenados por idade, já que não havia 0,5 ml para todos, o que é algo inadmissível, e por si só, motivo para uma grande rebelada contra o sistema, nos recolhemos para esperar o grande dia. No caminho, assistíamos de camarote às vidas que se esvaíam, e assim continuam.
Estou cansada de tanto descaso, mas a gota d’agua foi a notícia da falta de insumos para a produção da vacina para a qual eu e a maioria dos brasileiros idosos tomamos. Pensei: e agora? Acompanhando as notícias, escuto do nosso prefeito, Eduardo Paes, em quem votei e acredito ser o melhor para minha cidade, informando que, apesar desse grave problema, as segundas doses dos cariocas estavam guardadas e que não havia motivos para preocupações.
Dois dias depois, recebo a notícia de que fui enganada – que não havia vacinas para todos, que novamente deveria aguardar na fila. Em vez de 28 dias, seriam 38 dias. E esse dia finalmente chegou! Logo hoje, dia 13 de maio, dia difícil para mim, aniversário de partida da mulher mais importante da minha vida, minha mãe, chego ao posto para a sonhada segunda dose e sou obrigada a ouvir:
— Não, Priscila, não temos a sua dose. Tome uma dose de qualquer outra coisa e esqueça que você escolheu viver neste país.
Não foi exatamente essa fala, mas poderia ser, mediante o descaso e a posição das equipes de atendimento, que demonstram estar nos fazendo um favor, ao contrário de nos amparar e nos cuidar como cidadãos – um dever do município, do estado e principalmente do nosso país.
Eu sou um dos mais de 350 mil brasileiros que ficaram sem a segunda dose. Vacina já! Se você também está nessa situação, ajude-me a gritar.
Priscila Bentes é jornalista, escritora e sócia-fundadora do Circuito Elegante, selo de qualidade que chancela os melhores hotéis do Brasil. Viajante por profissão, tem também um blog de viagens.