Sempre quis escrever coisas definitivas, do tipo “O beijo é a véspera do escarro” ou “A guerra é a continuação da política por outros meios”. Mas Augusto dos Anjos e Claus von Clausewitz chegaram antes.
Também já pensei que “Abril é o mais cruel dos meses”, “O homem é o lobo do homem” e “Amar é jamais ter que pedir perdão” — mas só depois de T. S. Eliot, Plauto e Eric Segal, o que tirou um pouco do meu mérito.
Nisso é que dá ter nascido a mais de 6.500 anos das primeiras civilizações. Não importa o quanto se tente ser original, tudo parece já ter sido pensado e dito. Ou feito — como provam gastronomia molecular e o Kama Sutra.
Mesmo assim, um dia hei de reunir meus “Minutos de Sabedoria” (nota mental: pensar outro título, porque esse já deve ter sido patenteado) e legar à posteridade algo mais que o aportuguesamento de palavras como blutufe, crosfite, apigreide e raudério (o jenessequá o Veríssimo aportuguesou antes de mim).
Serão aforismos — quiçá axiomas — sob cuja aparente simplicidade estará oculto um raciocínio ainda mais simplório.
Coisas do tipo:
O pimentão é um tomate mal-humorado.
O rabanete é um nabo exibido.
A baroa é uma cenoura recatada.
A mandioca é um inhame envaidecido.
A bertalha é um espinafre enrustido.
O coentro é uma salsinha rancorosa.
A couve-flor é um brócolis desmaiado. (Sim, eu sei, brócolis não tem singular, mas não há como encaixar os brócolis no plural nesta frase.)
A alface é um repolho com problema de autoestima.
A pera é um chuchu mais sociável.
O morango é um figo pelo avesso.
O melão é uma melancia com TOC.
A pitaia é uma alcachofra que torce pela Mangueira.
A lima é uma laranja introvertida.
A mexerica é uma laranja assanhada.
A toranja é uma laranja arrogante.
O limão é uma laranja sarcástica.
Claro que vai ter muito mais (o caju é um abacate exibicionista, a uva é uma jabuticaba solidária, o pequi é um abacaxi ao contrário, a pitanga é uma acerola que botou silicone). Mas por enquanto é só isso. A meta é chegar a “O uísque é o cachorro engarrafado” e “Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim”.
Vinícius e Millôr não perdem por esperar.