O coronel Leandro Sampaio Monteiro, 41 anos, está à frente de duas funções importantíssimas no Rio: é Comandante-geral do Corpo de Bombeiros (o mais novo da história do Brasil) e secretário de Estado de Defesa Civil. Com a pandemia, digamos, é uma responsabilidade ainda maior, já que a corporação acaba de abrir os quartéis para a vacinação contra a covid. Com as novas medidas restritivas adotadas por Eduardo Paes a partir deste fim de semana — e segunda (22/03), ainda mais arrochada —, ele promete fiscalização rígida. “De novembro para cá, foram registradas mais de 640 denúncias de aglomerações em eventos”, diz.
Além disso, somente nos 50 primeiros dias do ano, os bombeiros fizeram 9.500 mil socorros relacionados a eventos de trânsito, 8.200 atendimentos pré-hospitalares e 7.300 operações terrestres, incluindo ações de busca e salvamento; os combates a incêndios ultrapassaram 7.600 ocorrências. Foram mais de três mil operações marítimas, quase 175 mil ações de prevenção a afogamentos e mais de 561 crianças perdidas na praia, encaminhadas a seus responsáveis.
Antes de assumir as funções atuais, Leandro comandou as unidades dos Bombeiros na Gávea e em Miguel Pereira, além de ter sido secretário de Cultura e presidente do Theatro Municipal. Eclético, não? “O que vale é a vontade de fazer acontecer”, reforça.
Leandro diz que, com a arrecadação de R$ 140 milhões da taxa de incêndio — aquela que muita gente joga na pilha de papéis sem dar muita importância —, vai criar o 1º Centro de Afogados do Estado e planeja, até o fim do ano, comprar 70 novas viaturas de combate a incêndio.
Como tem sido comandar o Corpo de Bombeiros na pandemia?
Estar na linha de frente é um desafio, mas nos preparamos pra isso. Implantamos uma série de protocolos e procedimentos de segurança, fazendo capacitações frequentes da tropa, reforçando o estoque de equipamentos de proteção individual, investindo na limpeza das unidades e no serviço de atendimento/assistência a bombeiros ativos, inativos e dependentes com casos de Covid-19. Destaco a construção do nosso hospital de campanha no Rio Comprido, com leitos para casos suspeitos ou confirmados de coronavírus.
Quais as próximas ações?
Somos bombeiros; nossa essência é salvar vidas. Nossas ações, em cooperação com outros órgãos, giram nesse sentido. Na última semana, disponibilizamos quartéis para vacinar a população em um plano conjunto com o município. Estamos, ainda, oferecendo aeronaves para distribuição das doses, além de lanchas e viaturas 4 x 4 para levar a vacina a locais de difícil acesso. Também atuamos na fiscalização de eventos com aglomerações. Desde novembro, já fizemos mais de 800 procedimentos administrativos – entre emissão de notificações, autos de infrações e interdições em todo o estado. Nesse período, foram 183 interdições.
Você também é secretário de Estado de Defesa Civil. Como é possível isso?
São funções que se complementam; afinal de contas, o Corpo de Bombeiros é o braço operacional da Defesa Civil. Ter um ligado ao outro traz agilidade, principalmente nas ações de Defesa Civil. Investimos em planejamento para a execução dos serviços prestados à população, além de uma atuação que envolve ações de prevenção e socorro.
Aos 41 anos, você é o Comandante-geral mais jovem do Brasil. A política está se renovando?
O que vale é a vontade de fazer acontecer, independentemente da idade. Sou jovem, sim, mas longe de rótulos. Meu objetivo é trazer modernização para o fortalecimento institucional da corporação. Tenho gás, me esforço e estou à disposição do Governo e da sociedade.
Pra onde vai o dinheiro da taxa de incêndio?
Para a criação do 1º Centro de Afogados do Estado, atualização dos equipamentos, compra de 70 viaturas de combate a incêndio, com capacidade de cinco mil litros de água, totalmente equipadas com desencarceradores (mecanismo que permite a retirada de vítimas presas em ferragens), geradores, almofadas pneumáticas, exaustores e outros equipamentos de ponta. Isso, até o fim do ano.
Fale um pouco da sua trajetória e interesse pela vida pública e política.
Sou filho de bombeiro. Entrei para a corporação em 1998, comandei as unidades de Miguel Pereira e da Gávea e ainda atuei como coordenador operacional da Defesa Civil do Estado. Sou pós-graduado em Gerenciamento Operacional e em Gestão Estratégica nas Organizações. Já exerci também os cargos de secretário de Cultura e de presidente do Theatro Municipal do Rio.
À época da sua nomeação, uma reportagem alertou para o fato de você ter um bar em Ipanema, o que, segundo o Código Penal Militar, é ilegal…
Não há conduta ilegal uma vez que, conforme previsto no Código Penal Militar, o tipo de representação jurídica se refere especificamente às sociedades anônimas e por cotas, o que não é o caso do referido estabelecimento, que consiste em uma EIRELI (empresa de um único dono/sócio). No âmbito do Superior Tribunal Militar, eu jamais exerci qualquer função e/ou gerência do negócio. Ainda: não se pode cogitar uma eventual infração ao Estatuto do CBMERJ já que o bar não tem relação alguma com a atividade-fim de bombeiro militar. Sendo assim, não há nenhum ato contrário à moralidade administrativa.
Por Acyr Méra Júnior