Outro dia, eu estava conversando com uma amiga que passava por um momento muito difícil: perdeu várias pessoas próximas nos últimos meses e está sofrendo muito com o fato de ter que ficar isolada tanto dos colegas do trabalho quanto da família e dos amigos, em função do Covid-19. Como eu, está muito triste com as consequências econômicas e sociais da pandemia, além de sentir a dor das perdas de pessoas queridas.
Naquele momento em que conversávamos, eu estava num dia muito positivo, saindo de uma reunião onde recebi várias boas notícias e perspectivas bastante otimistas em relação à minha atividade e de outros colegas e parceiros que atuam na Internet.
Na minha empolgação, quis compartilhar com ela essas boas notícias e as perspectivas que eu estava enxergando, inclusive, oportunidades que surgiram no contexto da pandemia; por exemplo, a possibilidade de qualquer um empreender com poucos recursos e vender seus produtos ou serviços com a ajuda das redes sociais.
Naquele dia, eu ouvi alguns depoimentos de pessoas que ganhavam até um salário-mínimo e que tinham multiplicado por três, quatro ou cinco vezes, sua renda mensal graças à Internet. Muitas pessoas que perderam o emprego e que precisavam reinventar-se estavam dando a volta por cima, e até mais felizes. Deixei contagiar-me por esse sentimento de felicidade, apesar do contexto trágico da pandemia.
De repente, a conversa com minha amiga virou uma discussão — eu, empolgada, tentando mostrar o lado positivo da pandemia para essas pessoas, e ela dizendo que não estava entendendo como eu podia ser tão feliz, positiva e otimista enquanto todo mundo estava morrendo, todas as empresas fechando e perdendo dinheiro com esse isolamento social etc., etc…
De início, caí na armadilha de responder-lhe e tentar fazê-la enxergar o que eu estava enxergando, dando exemplos e explicando que, no mundo digital, criaram-se muitas oportunidades para milhares de pessoas justamente em função da pandemia. Percebi, então, que ela estava ficando irritada e eu, também. Essa consciência daquilo que eu estava sentindo foi como um despertador. Acordei e vi que tínhamos entrado na famosa conversa que chamo de “pingue-pongue”, uma série de monólogos em que cada um tenta mostrar seu ponto de vista, mas ninguém tenta compreender nem enxergar o do outro.
Foi naquele momento que resolvi aplicar o Método Conecta (método que criei para facilitar conversas difíceis) de forma consciente: comecei a fazer perguntas a ela com o objetivo de tentar compreendê-la. Fiquei ouvindo mais, reformulando o que ela falava. Com esse procedimento, minha amiga foi se acalmando aos poucos, até que, finalmente, disse que estava entendendo meu ponto de vista, mas que só queria que eu a compreendesse. Eu fiquei aliviada e ela, também, porque nos sentimos compreendidas.
A conclusão que tirei da nossa conversa — que foi um retrato comum das discussões entre amigos, parceiros, membros de uma família, colegas, etc. — é que todos nós, quando expressamos um ponto de vista, estamos precisando do outro, que nos demonstre que está nos compreendendo. Não necessariamente que está concordando ou compartilhando a mesma opinião, apenas compreendendo.
Se você tiver uma discussão nos próximos dias, experimente essa abordagem. Em vez de ficar insistindo, falando do seu ponto de vista, faça perguntas para o outro e reformule o que você o ouviu dizer. Tente compreendê-lo para depois expressar a sua opinião. Você vai perceber o quanto isso abre o diálogo. Boa semana!