Relacionamento sugar? Não, obrigado.
Um relacionamento shoyu, talvez. Um pouco mais complexo — indo do doce ao amargo, passando pelo azedo, pelo salgado.
Ou um relacionamento tabasco: mais ardido, caliente.
Não quero nada que envolva troca de favores. Uma troca de “flavors”, talvez.
Ok, trocadilho horrível. Esquece.
O que me cairia bem seria um relacionamento sem contrato, sem compromissos. Bem pipoca, sabe como? Podendo ter ora uma pitada de sal, ora vir em calda de caramelo; ser de panela, de micro-ondas; desfrutado no aconchego do lar ou, sem culpa, em qualquer esquina. Que não precise alimentar a alma com proteínas e vitaminas, mas que a distraia enquanto o filme da vida desliza diante dos olhos.
Meu reino (que não tenho) por um relacionamento brevidade, esfarelando na boca e se acabando num piscar de olhos. Ou num suspiro — levemente tostado, recém-saído do forno.
Um relacionamento do tipo raspa de mingau de maisena, queimada no fundo. Porque, no fundo, todos nos queimamos no relacionamento.
Ok, péssimo trocadilho, de novo.
O “sugar” há de ser um relacionamento enjoativo, previsível, de cartas marcadas. Meloso, medroso, melodramático. Se é pra ser adocicado, que seja kinder ovo, com alguma surpresa.
O “sugar” é tóxico — sou mais algo do tipo garapa, que desintoxica. (Garapa, pra quem não sabe, é o mesmo que caldo de cana, só que com gosto de infância — feito quissuco, paçoca, mandiopã).
Taí: quero um relacionamento quissuco — de groselha, de morango, de framboesa. Que pareça igual, mas com sutis diferenças. Que seja solúvel, acessível e instantâneo — e nunca o suficiente para a minha sede insaciável. Um relacionamento paçoca, singelo e portátil. Leve feito mandiopã, que era uma espécie de hóstia que prescindia do pecado, da confissão, e não grudava no palato.
Nada de “sugar”, que me sugue o dinheiro e a emoção (perdão; é o último trocadilho, prometo). Quero um relacionamento que me encharque, não que me enxugue (eu tinha dito que era o último? Tinha mais este…).
Sugar daddy? Não. Mascavo, talvez. De “minus caput”, inacabado, o açúcar ainda por refinar. Para poder melhorar junto, e juntos aguçar o gosto, o olfato, o tato. E juntos apurar o sentimento, a sensibilidade — e o paladar.