Quando comecei a estudar o comportamento humano, 10 anos atrás, um termo específico me chamou atenção — o verbo “ressignificar”: atribuir um novo significado a determinados acontecimentos. Por exemplo, imagine que você perde um voo. Em vez de ficar nervoso, chateado ou com raiva, você pode procurar enxergar essa situação de forma positiva, pensando que, certamente, perdeu o voo por um bom motivo.
E, coincidência ou não, você acaba encontrando, no aeroporto, um excelente amigo que não via há muito tempo. Para alguns cientistas, “ressignificar” vai além de atribuir um sentido diferente ao evento: é lançar um novo olhar sobre situações e mudar o curso dos acontecimentos.
Eu nunca tinha ouvido falar desse conceito até realizar a minha primeira certificação em coaching. Quando descobri seu significado, confesso que fiquei fascinada. Pensei: “Como assim? Posso decidir e atribuir um sentido a tudo que acontece na minha vida e ainda transformar a situação em função desse novo olhar? Uau! Parece mágico e incrível ao mesmo tempo!”
No início dessa descoberta, ainda não tinha consciência da real potência e da importância desse conceito, não somente para a felicidade do ser humano, como também para a sua sobrevivência em situações mais extremas e desumanizadoras. Foi na minha especialização em coaching de saúde e bem-estar, nos Estados Unidos, que pude aprofundar meu conhecimento sobre o assunto, quando estudei a obra do Victor Frankl. Esse neuropsiquiatra austríaco ficou famoso depois de relatar a sua história trágica, no best-seller internacional “Em Busca de Sentido”.
Esse médico judeu foi o único sobrevivente de sua família nos campos de concentração, durante a Segunda Guerra Mundial. Perdeu sua mulher, grávida, seus pais e seu irmão. Para continuar com vontade de viver, precisou encontrar algum sentido nessa tragédia. Foi, em função dessa circunstância, que o Victor criou a primeira ciência, no mundo, especializada em “sentido da vida”.
Segundo ele, tudo pode ser tirado de uma pessoa, exceto a liberdade de escolher sua atitude e seus pensamentos diante de qualquer circunstância da vida. Essa forma de enxergar o mundo e os acontecimentos é extremamente importante em situações de crises – fortalece e aumenta muito a capacidade de resiliência. Com esse entendimento, criei a minha própria crença fortalecedora. Passei a acreditar que tudo na minha vida acontece por algum motivo e que esse motivo é me fazer evoluir, crescer e ganhar em sabedoria. Procuro enxergar, em todos os desafios que aparecem para mim, o que devo aprender e fazer com isso.
Foi exatamente assim que comecei a “ressignificar” todas as dificuldades e os eventos negativos que apareciam na minha vida. Mudei meu olhar e entendi, por exemplo, que cada conflito, cada pessoa que eu achava difíceis, estavam aqui para me ensinar alguma coisa. Graças a esses desafios, mergulhei na Comunicação Não Violenta e me tornei especialista, ao ponto de poder contribuir com a sociedade. Hoje sou muito grata por tudo que passei e enfrentei ao longo da vida. Toda vez que se apresenta um novo desafio, ou que as coisas não acontecem como eu gostaria, procuro enxergar o que posso fazer de positivo com isso.
Um excelente exemplo disso foi a pandemia. Depois de um mês de confinamento e um estado permanente de preocupação, percebi minha energia sendo sugada e resolvi mudar meu olhar sobre o contexto. Decidi focar apenas no lado positivo das coisas: trabalhar mais online e ajudar pessoas no Brasil inteiro e no exterior, passar mais tempo em casa, com minha família, não ter que me deslocar e perder tempo no trânsito etc. Em um nível maior, acredito que a pandemia veio para nos ensinar muitas coisas, inclusive, a valorizar cada vez mais os relacionamentos, o abraço, a humanidade e a empatia. E para você? Como seria “ressignificar” a pandemia?