Que tipo de personagem você imagina quando falo de manipulador? Muitas pessoas pensam em uma pessoa malvada, mal-intencionada, que manipula de forma consciente, utiliza ou engana o outro para obter uma vantagem. É mais ou menos assim que você representa uma pessoa manipuladora? Pois é. Na realidade, todos nós, de alguma forma, somos vítimas de manipulações no dia a dia, de forma recorrente, sem mesmo perceber.
Por exemplo, você já entrou numa loja para comprar um aparelho relativamente simples e saiu de lá com aquele modelo de última geração, muito mais caro, com um monte de funcionalidades de que você não precisava, nem queria? Já emprestou dinheiro para um amigo ou familiar e depois percebeu que essa pessoa estava gastando dinheiro em coisas fúteis em vez de reembolsar você? Ou acabou comprando alguma coisa para alguém que se queixava de não ter dinheiro, mas nunca lhe pediu diretamente? Esse tipo de situações é muito mais comum do que a gente pensa. Seja em casa, seja no trabalho, nós nos sentimos obrigados a fazer determinadas coisas que, no fundo, não queremos.
Culpabilização, vitimização, pressão, insistência, simpatia, chantagem emocional, má-fé são apenas alguns dos 20 tipos de manipulação mencionados no livro “Como se defender dos manipuladores”, do Yves-Alexandre Thalmann. “A culpa é sua se não estou conseguindo encontrar um emprego!” ou “Você me deixa muito triste quando não termina o seu prato”. Culpar o outro ou tentar fazê-lo sentir-se culpado é deixar de assumir e transferir sua parte de responsabilidade pelos próprios atos para o outro. Sempre falo para os meus alunos e mentorados (?) que, quando sentem culpa, significa que estão carregando, na mochila, pedras que não são deles, e que não deveriam aceitar carregar essas pedras. Segundo o autor do livro, manipular é:
– tentar convencer o outro, de forma velada, a fazer, pensar ou sentir alguma coisa;
– empregar meios ardilosos para alcançar um determinado objetivo;
– ativar recursos psicológicos para influenciar o outro;
– ultrapassar impunemente todos os limites;
– só se importar consigo mesmo.
Existem também aqueles que chamo de “manipuladores fofos”, que usam a adulação ou a simpatia para nos levar a fazer coisas que não queremos, porque não ousamos ou não sabemos dizer “não” para alguém que nos elogia e nos trata bem, para aquele colega sempre gentil e educado que não perde uma oportunidade para fazer um elogio e não sente nenhum constrangimento em pedir sua ajuda a toda hora. “Nossa! Você está tão bonita com essa roupa!”… e, poucos minutos depois, vem lhe falar: “Amiga, estou muito enrolado; pode fazer isso pra mim?”
E aquelas pessoa que, através de frases como “é para o seu bem” ou ainda “deixe que eu faço, você não vai saber como fazer”, tratam-nos como crianças, anulando a nossa capacidade de escolha e decidindo o que é melhor para nós, com a maior das boas intenções? Como recusar ajuda sem ofender? Como dizer “não”, e ainda preservar a relação?
O primeiro passo é a conscientização. Se você sente pena, culpa, vergonha, medo e acaba fazendo algo que, no fundo, não quer, não será construtivo para sua relação – qualquer que seja -, e só aumentará seu mal-estar e a vontade de se afastar da pessoa. Já se viu passando rápido e o mais longe possível de uma loja para evitar aquele vendedor “chato” que costuma forçar a barra com um excesso de simpatia para você comprar? Pois é. Tenha em mente que não existe nenhum tipo positivo de manipulação.
O segundo passo é procurar identificar, através de perguntas empáticas, a intenção da pessoa. Por exemplo: “Você está preocupado e prefere fazer no meu lugar, porque acha que não vou saber fazer tão bem quanto você – é isso?” Se a pessoa responde “sim”, você pode dizer que compreende e que gostaria de aprender porque sente necessidade de ter autonomia e saber fazer aquilo também.
O terceiro e último passo é adotar uma comunicação franca e respeitosa, com uma boa dose de empatia no meio, ou seja, evitar julgamentos, inclusive na sua mente. Aquele pensamento que o outro é um “chato” não vai resolver; só vai alimentar seu sentimento de irritação e seu vulcão interior. No lugar disso, lembre-se dos ensinamentos do psicólogo Marshall Rosenberg, pai da Comunicação Não-Violenta: tudo que o ser humano faz tem por objetivo atender às suas necessidades”.
Então, saiba que, muitas vezes, as pessoas não manipulam por maldade, ou para fazer algo contra você de forma consciente. Usam as manipulações porque são as maneiras de agir que aprenderam desde a infância, para que suas necessidades sejam atendidas. Empatia gera empatia!