Vai? Não Vai? Vem? Não vem? Vou? Não vou? O dilema está presente em todos os lares. Um mix de pensamentos e sentimentos invade as mentes e os corações das pessoas: medo, preocupação, angústia, tristeza, ambivalência, autoconfiança, tranquilidade, segurança… Como lidar com as próprias emoções e como acolher as emoções do outro, sobretudo, quando são diferentes? Alguns se sentem muito seguros e querem comemorar o Natal em família, como sempre; outros preferem ficar isolados.
Recentemente, uma amiga minha comentou que não sabia como falar para as primas que não ia poder recebê-las na casa dela, como costuma fazer todo ano. As primas estão muito animadas para passar o Natal na sua casa e estão pressionando-a, pois acreditam que o vírus não vai atingi-las. Querem manter a comemoração de sempre.
Sabe quando você tenta se expressar, mas o outro não o ouve, ou finge que não ouve, para atender às próprias necessidades e aos próprios interesses? Pois é. Nesse tipo de situação, como se posicionar de maneira a se fazer ouvir, compreender e respeitar, sem criar atritos ou perder a relação?
Em outubro de 2019, depois de 10 anos de experiência, estudando, praticando e ensinando a Comunicação Não Violenta para públicos diversos, criei meu próprio método para conduzir conversas difíceis e desarmar conflitos com leveza e eficácia. São sete passos para compreender e ser compreendido, através da empatia e de um diálogo construtivo. Chamei esse processo de “Método Conecta” porque o primeiro objetivo é criar uma conexão empática com seu interlocutor na hora de um conflito. Sem essa conexão empática entre você e o outro, quando a situação fica tensa, é como tentar fazer uma ligação urgente e importante com um celular com muito pouco sinal. A comunicação vai falhar o tempo todo, e você não vai conseguir ouvir o outro nem ser ouvido. Vai ficar irritado, com raiva e, no melhor dos casos, frustrado. Não é assim?
Então vamos à solução. Os sete passos do “Método Conecta” são os seguintes:
curiosidade — abra sua mente e comece com uma pergunta, com intenção de compreender;
ouvir — ouça o outro ativamente, até o final, antes de começar a se expressar;
não julgar — procure deixar de lado os preconceitos e julgamentos;
empatizar — procure entender como o outro está se sentindo e o que ele está precisando;
checar — verifique se o que você entendeu foi realmente o que o outro quis dizer;
transição — avalie se está na hora de se expressar ou se o outro ainda precisa falar!
autenticidade — procure ser autêntico na hora de se expressar e evite ser irônico.
Como seria aplicar esse passo a passo na situação da minha amiga? Ela poderia ligar para a prima com a qual tem mais empatia e perguntar-lhe:
Amiga: “Prima, Natal está chegando e estou um pouco preocupada com nossa comemoração. Como você está se sentindo a respeito disso?”
Prima: “Eu? Supertranquila! Acho que esse vírus não vai nos atingir. Vamos manter nossa comemoração. Qualquer coisa, o pessoal usa máscara.”
Amiga: “Entendi. Você está se sentindo segura e acha que nenhum de nós pode ser contaminado pelo vírus. É isso?”
Prima: “É, não sei, não tenho certeza, mas acho pouco provável, sabe? Todo mundo tomando cuidado, ninguém está se expondo muito e acho que temos que viver. Não dá para ficar confinados o resto da vida!”
Amiga: “Certo. Entendo que, para você, fica difícil continuar confinada, principalmente no momento de Natal, que é uma comemoração muito especial para todos nós, né?”
Prima: “É! Acho muito difícil, sabe? Estou morrendo de saudades de todos e quero poder sair e ver a família, pelo menos no Natal.”
Amiga: “Entendo. Também estou morrendo de saudades e gostaria de poder viver normalmente, neste período de festas. Estava esperando tanto esse momento!”
Prima: “Eu também! Morrendo de saudades!”
Amiga: “Pois é. Posso abrir meu coração para você?”
Prima: “Claro, prima! Sempre! Diga. Você está preocupada?”
Amiga: “Estou. Não gostaria de estar, mas estou. Perdi um amigo próximo recentemente e ouço todo dia alguém que eu conheço, dizendo que está com o vírus. Fico pensando o quanto amo vocês e não gostaria de comprometer a vida de ninguém por causa de uma comemoração, por mais importante que seja para mim e para todos, ainda mais, sendo na minha casa. Isso seria da minha responsabilidade. Prefiro ser prudente e deixar passar esta fase, senão poderei me arrepender para o resto da vida. Acho que não vale a pena. A vida de todos nos é mais importante do que a comemoração. Consegue me compreender?”
Prima: “Bom, entendo, mas eu não acho que algo ruim vai acontecer para um de nós.”
Amiga: “Tudo bem, espero que seja assim. É muito duro para mim, mas prefiro não atentar o diabo. Sei que vai ser duro pra todo mundo, mas acho que tomei minha decisão. Que tal a gente organizar nosso encontro online, desta vez? Sei que não vai ser igual, mas, pelo menos, estaremos juntos de alguma forma. Pode ser?”
Prima: “Olha, eu te entendo, mas fico bem triste e decepcionada. Queria tanto ver vocês!”
Amiga: “Eu sei, eu também, prima! Em breve, estaremos juntos. Paciência.”
Nesse diálogo, você pode perceber que o grande segredo é perguntar, ouvir e checar, para depois se expressar de forma autêntica, em vez de sair falando e tentar fazer valer seu ponto de vista. Na maioria dos conflitos, somente depois de ouvir o outro e demonstrar empatia, o outro estará disposto a ouvir você. Se quiser que o outro ouça e compreenda, é fundamental que você seja capaz de mostrar o exemplo. Como pode pedir que o outro o ouça e o compreenda, se você mesmo não demonstra essa capacidade com ele, primeiro?
Centenas de pessoas já aplicaram o “Método Conecta” e conseguiram ter conversas mais empáticas e construtivas. Espero que tenha gostado da dica! Experimente e me conte no meu Instagram.
Desejo para você e sua família o melhor Natal possível dentro do contexto atual, com muito amor, respeito e empatia. Boas festas!