Vivemos tempos difíceis. Uma pandemia mudou completamente a nossa vida cotidiana e escancarou a desigualdade existente entre nós. Um governo federal negacionista, autoritário e autocentrado, com mania de perseguição e incapacidade de diálogo tornou a vida durante a pandemia ainda mais difícil e assustadora. Nesse cenário desesperador, disputei as eleições de 2020 tentando renovar um mandato de vereador na Cidade do Rio de Janeiro. Desde o início, percebi que seria muito difícil recuperar a esperança das pessoas sem falar do futuro, sem imaginar junto com aqueles que chegaram para construir essa campanha, um tempo vindouro diferente desse que estamos vivendo.
Sou professor de História, acostumado a olhar para o passado procurando entender como e por que as coisas mudam ou permanecem. E o mais fascinante desse meu ofício é perceber que o futuro daqueles que viveram no passado estava indeterminado e as transformações que aconteceram ou deixaram de acontecer foram fruto da ação dos sujeitos históricos, das forças sociais e das contradições de cada tempo. É essa compreensão que me dá esperança: o amanhã segue indefinido e a vida das pessoas será mais feliz ou mais injusta dependendo daquilo que fizermos hoje.
Diante disso, é inaceitável a acomodação e a resignação. É preciso disputar o futuro hoje! O futuro tem que ser agora! Se como nos diz Caetano, “gente é pra brilhar, não pra morrer de fome”, como ficar parado diante da pobreza extrema que cresce a cada dia? Como não se indignar com as escolas caindo aos pedaços apesar dos esforços dos profissionais da educação? Como aceitar que as OSs desviem dinheiro público que devia salvar vidas nos hospitais da cidade? Como não chorar de raiva toda vez que a gente vê a cultura de nossa gente sendo desvalorizada? Como não ficar irado diante dos ônibus caros e ruins, enquanto uma máfia lucra bilhões? Como não gritar alto que cariocas não podem morrer porque choveu demais na cidade? Não é natural! Não queremos voltar ao “normal” que nos trouxe até aqui. Queremos um novo futuro!
Acho que foi percebendo isso que 86.243 cidadãos cariocas me confiaram seus votos no dia 15 de novembro. São votos carregados de esperança no futuro, repletos de vida e cheios de sonhos com uma sociedade mais justa e fraterna. Se em 2018, as urnas em todo Brasil exalaram ódio e respingaram sangue, dois anos depois, nelas voltamos a ver um sopro de esperança em tempos melhores. Obviamente, o futuro segue indeterminado, mas, o que nosso resultado eleitoral indica é que milhares de pessoas estão dispostas a disputá-lo. Nosso mandato e nossa bancada estarão ao lado dessas pessoas tecendo o amanhã com teimosia, afeto, indignação e esperança.
Tarcísio Motta é historiador reconhecido, professor do Colégio Pedro II. Foi o vereador mais votado do Rio nas eleições 2020, com 86.243 votos, o quinto colocado do País. Também é líder do PSOL carioca na Câmara de Vereadores e presidiu a CPI das Enchentes e a Comissão Especial do Carnaval, além de vice-presidente das comissões de Cultura e Educação.