Como podemos nos conectar com nossas necessidades e sentimentos para orientar escolhas mais conscientes? Muito mais do que uma ferramenta essencial para a assertividade na comunicação com os outros, a Comunicação Não Violenta (CNV) é, também, poderosa para o autoconhecimento, a autoempatia e autocompaixão. Marshall Rosenberg, pai da Comunicação Não Violenta, pontua que “tudo o que um ser humano faz tem por objetivo atender a seus sentimentos e necessidades”.
A compreensão de que a base de nossas ações está na identificação e entendimento do que sentimos e precisamos é a chave para a clareza. Uma vez que as escolhas estejam pautadas em um exercício de olhar para esses dois pontos (sentimentos e necessidades), certamente elas estarão mais orientadas ao que nosso corpo e mente precisam.
Em maio deste ano, atendi uma cliente que me procurou para conseguir sair e se impor diante de uma situação de assédio moral. Fizemos duas sessões antes que ela conseguisse conversar com seu chefe a respeito do caso. Após essa etapa (bem-sucedida), apresentei a ela, novamente, a roda de sentimentos e a lista de necessidades — material de apoio que sempre utilizo em minhas sessões e que consiste em uma listagem de diversos sentimentos e necessidades humanas, o que facilita a identificação do cliente.
Perguntei-lhe: “Quais necessidades você sente que não estão atendidas atualmente?” A resposta: “Clareza, propósito, contribuição, inspiração, produtividade, autenticidade, liberdade, coragem e leveza”. Segui: “E quais sentimentos você identifica atualmente?” Resposta: “Ansiedade, agitação, estresse, confusão, cansaço, desconexão.”
E me surpreendi com o que ela completou: “Marie, apesar de estar me sentindo aliviada por ter saído dessa situação horrível de assédio, observando meus sentimentos e necessidades, estou com a clareza de que estou na profissão errada. Não me sinto completa, realizada. Queria saber se podemos fazer um trabalho de transição de carreira.”
Em apenas um mês, essa cliente, certa de suas necessidades, decidiu sair do trabalho que estava e migrar para outra profissão. É claro, houve um preparo emocional e financeiro para isso, mas o que queria pontuar com esse exemplo é que a CNV deu a essa cliente mais do que a capacidade de libertar-se de uma situação de controle psicológico — deu também a coragem e a clareza que faltavam para decidir fazer aquilo que sentia que deveria fazer.
Sempre pontuo com meus clientes que essa consciência trazida pela CNV é potente. Fazer diariamente essa análise e anotar insights que surgem a partir dessa identificação pode fazer uma conversa difícil ser iniciada, uma decisão ser tomada, um limite ser imposto, uma mudança tomar forma.
E o que isso tem a ver com felicidade? No centro de todas as necessidades humanas, está a vitalidade. Quanto mais necessidades temos preenchidas e atendidas, nos sentimos mais vivos e, portanto, mais felizes. O primeiro passo para atender às necessidades é saber nomeá-las, identificá-las, percebê-las.
Na correria do dia a dia, com todos os afazeres e prazos que temos que lidar na vida adulta, acabamos por deixar para depois o espaço para cuidar do que sentimos. Digo sempre: se todos parássemos cinco minutinhos do dia para olhar pra dentro, nossas ações do dia seriam mais precisas e alinhadas com o que sentimos e precisamos e, consequentemente, seríamos mais felizes.