A necessidade muda e move o homem. A alma, os sentimentos, a estética podem manifestar-se de várias maneiras. O teatro tem um estatuto: atores, expressão com palavras ou não, e plateia. Assim era feito na Grécia, nos malabares da Idade Média, na Comédie Française, no teatro de rua, nos palcos italianos, arenas… O que vimos agora é que o teatro vive com o mesmo estatuto: atores e expressão com palavras, ou mesmo sem palavras, apenas gestos… e plateia.
Dentro dessa perspectiva, Ivan Sugahara e Danielle Oliveira desenvolvem o Projeto Trajetórias, que apresenta agora seu segundo trabalho, “Ausência”, no formato cineteatro físico, incorporando gravação e edição das imagens ao formato teatral tradicional, com a atuação de atores. Em “Ausência”, Danielle contracena, literalmente, com Maria Augusta Montera.
Na tela dividida, duas mulheres usam as mãos e os corpos para exprimir, de forma primorosa, o impacto da solidão, da impossibilidade, e mais não se tem com que falar. A falta de voz, de palavras, é preenchida pelas mudanças de lugar, de olhar, de ângulo. No entanto, a permanência expressiva continua com a mesma força, pois há o foco no significado: estou só, mudo de lugar, mas a ausência de tudo é permanente.
A grande discussão em teatro é sempre questionar se novos formatos, ousadia, invenção, criação ainda trazem o teatro na essência. Ivan Sugahara é um diretor mais do que talentoso. Ele percebe aquilo que chamamos de ver a grande imagem, o quadro total, sem perder os detalhes. Consegue realizar uma nova linguagem, mas respeitando o código. Por isso, é que, em “Ausência”, tudo o que interessa está lá: sentimentos, estética, Arte.
Serviço:
https://www.youtube.com/watch? v=iGY-NUXO4L0
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