Na nossa infância, houve um momento em que sonhamos, ou mesmo quisemos, que fôssemos parar num lugar meio limbo — o nosso quarto flutuando… Sem obrigações, o cotidiano congelado numa rotina sem rotina, a não ser aquela de gastar o tempo. O consumo de pequenas coisas, a dolorosa distância, as palavras que ouvimos… Assim estamos há praticamente sete meses!….
É, nesse universo, que Renato Rocha e o NAI corajosamente construíram a performance “Pandemia” — performers em trajes hiperprotetivos no espaço vazio e no espaço público. Performers que caem repetidas vezes ao chão em grupos e desmoronamentos aleatórios. Blocos de pessoas que insistem em caminhar para trás em diversas e diferentes direções.
Grupos emaranhados em linhas que asseguram a distância mínima de 2m e dá visualidade poética ao distanciamento social necessário, assim como duplas separadas em distâncias exatas por fita métrica. Tudo isso transmitido ao vivo em várias lives e diferentes pontos de vista simultaneamente, com o público podendo intervir.
O trabalho coletivo, com 15 performers, na direção do premiado diretor Renato Rocha, começa com pessoas que circulam, vestindo roupas de retalhos de embalagens, um bloco de sujo, repleto do excesso que se acumulou na pandemia. O metro que limita, ícone da distância que temos que manter com as pessoas, funciona como um cordão de isolamento.
E, ao contrário da monotonia que vivemos nesse período, sem contato com a vida interior, Renato e os performers desafiam o público a ter um olhar para o outro, para o conjunto – sair de si e caminhar; cair e levantar, pois temos que ir em frente. Embolados, solitários, com máscaras, tubos, plásticos, vemos que o sonho que achamos pesadelo pode ser um belo trajeto quando nos é apresentado pela arte.
Serviço:
“Pandemia”
Até 4 de outubro
Locais: Centro, Zona Norte, Zona Oeste, Baixada Fluminense e Zona Sul
Datas: as datas da programação serão avisadas no próprio dia, poucas horas antes do início de cada ação, para evitar aglomeração e, também, surpreender o público de cada localidade.
Para assistir pelo Instagram: #nucleodeartesintegradas